“…15 Imagens de arquivo serão retomadas para provocar reencenações por parte daqueles que atualizam a experiência histórica por meio dos seus gestos, corpos e lembranças. 16 Mesmo a situação de exibição das imagens será, em muitos casos, trazida para o interior da cena em circunstanciais "comunidades de cinema": expõem-se ali os corpos dos espectadores, sua reação sensível às imagens -as palavras, as interjeições, os olhares atentos (Brasil, 2016a Nesse sentido, o filme parece ancorar-se em tradição escópica distinta daquela ocidental (da qual o cinema participa, não sem a alterar). O que Morzaniel filma são "imagens-espírito": na cosmologia yanomami, os xamãs não apenas veem os espíritos, mas são vistos por eles, para então ver através de seus olhos (Kopenawa & Albert, 2015 Tudo isso sob a assistência dos xamãs e de Guigui, que dirige não só a mise--en-scène dos tatakox como a própria câmera imersa na tensão entre a tomada de distância (necessária para filmar) e a imersão na dinâmica do ritual como uma de suas agências (ver foto 4, na p. 614).…”