O uso medicinal e terapêutico da Cannabis spp. tem uma longa história na humanidade, mas a atual Política Nacional de Drogas do Brasil ainda impõe processo burocrático para plantio, produção e consumo da substância para fins medicinais. Esse artigo tem o objetivo de analisar e comparar como programas de entretenimento matinais das redes Globo e Record abordaram o uso medicinal dos derivados da maconha no Brasil entre 2014 e 2018, nas quais são destaques os movimentos sociais a favor da liberação da maconha medicinal para famílias de pacientes que não respondem aos tratamentos convencionais. Observou-se mudança significativa na abordagem, no que tange à seleção lexical, das emissoras durante o processo de liberação da importação. A segunda modificação observada consiste na escolha das fontes para as entrevistas. Se num primeiro momento tem-se forte representação das famílias, construindo uma imagem familiar do uso da substância, com o passar do tempo essas são substituídas por médicos e neurocientistas.
O debate sobre a regulamentação do uso medicinal da Cannabis, assim como o cultivo para esse fim e as pesquisas científicas com a planta no Brasil, deu um novo passo com as consultas e audiências públicas 654 e 655 promovidas pela Anvisa entre junho e agosto em 2019. Deste modo, busca-se identificar e analisar como as máximas do rigor científico da Anvisa (Eficácia, Segurança e Qualidade) aparecem no posicionamento público dos representantes dos diversos segmentos da sociedade que participaram do processo. O uso do software Iramuteq permitiu realizar a Análise de Conteúdo da fala dos participantes e da Anvisa. Os resultados demonstram que a Anvisa busca resguardar suas decisões e atitudes justificando que seu rigor científico é garantido pelas máximas, enquanto os representantes da sociedade apontam que há outras possibilidades que poderiam ser complementares. A decisão final da Anvisa autoriza a venda de produtos à base de Cannabis em Farmácias, mas proíbe o cultivo, de forma que os substratos ainda precisarão ser importados.
O surgimento de associações civis em prol da cannabis é um fenômeno recente, iniciado na década de 2010. Diante da inércia do Estado, essas organizações atuam no acolhimento, apoio, informação, capacitação e facilitação do acesso a pacientes e familiares a medicamentos à base de maconha, substância proibida no Brasil. Com a pandemia da Covid-19, essas instituições precisaram rever suas práticas ativistas, adaptando-as para o ambiente virtual, o que proporcionou o advento das lives de conteúdo canábico, assim como o crescimento substancial no número de seguidores dessas associações nas redes sociais digitais. Diante do exposto, o objetivo desta tese é analisar como diferentes associações em prol da cannabis compartilham conhecimentos sobre os usos terapêuticos e medicinais da Cannabis spp. por meio do Instagram, a fim de identificar como o ativismo canábico se fundamenta em dados científicos ou na vivência dos associados. As associações participantes foram Associação Cultural Cannábica de São Paulo (ACuCa), Associação Brasileira de Pacientes de Cannabis Medicinal (Ama+me), Associação de Apoio à Pesquisa e à Pacientes de Cannabis Medicinal (Apepi). A metodologia contemplou: levantamento bibliográfico, entrevistas semiestruturadas com representantes e associados de associações canábicas brasileiras e Análise de Conteúdo dos perfis dessas associações no Instagram. Como resultados, verificou-se que o ativismo canábico praticado no Instagram possui semelhanças com aquele que se pratica presencialmente, no entanto, nas mídias sociais prioriza-se a divulgação do conhecimento pela informação e capacitação de seus seguidores, tendo o cuidado de tratar o conteúdo para se adequar às diretrizes da plataforma. O acolhimento, apoio e facilitação do acesso a produtos à base de cannabis, principais frentes do associativismo canábico no Brasil, aparecem de forma velada nas publicações, sendo que em sua maioria ocorrem em conversas privadas nos meios de comunicação com as associações. Palavras-chave: Conhecimentos canábicos. Ativismo. Associativismo. Redes Sociais Digitais.
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