O presente ensaio teórico discute o tema das relações raciais no Brasil e explora suas interfaces com os estudos sobre gestão da diversidade nas organizações. Para tanto, busca problematizar a apropriação que a referida área de estudos tem feito dos trabalhos norte-americanos, colocando em segundo plano - ou até mesmo ignorando - os estudos sobre relações raciais desenvolvidos pela antropologia e pela sociologia brasileiras. Essa problematização nos ajuda a perceber que os estudos organizacionais no Brasil têm se colocado de maneira deslocada nesse debate, seja pela suposição de que nossa gestão da diversidade deve seguir parâmetros anglo-saxões, seja pelo distanciamento que a área tem mantido dos estudos brasileiros que abordam minorias raciais e sua dinâmica de relações. A parte final do ensaio recupera dois importantes trabalhos produzidos no âmbito dos estudos brasileiros sobre relações raciais e, a partir deles, analisa as possíveis contribuições desse debate para o estudo de organizações brasileiras. Este trabalho termina chamando a atenção dos pesquisadores para a necessidade de se resgatar o debate brasileiro como forma de contextualizar a gestão da diversidade no Brasil.
Management is known as a global phenomenon. However, its “global” façade tends to mean that management knowledge and practices are usually created and developed in Western countries—mainly the United States—to be transferred supposedly problem‐free to other locations. This paper discusses how management has spread globally via Americanization, and is therefore a grobal phenomenon. From a Latin American perspective, this transfer can be problematic, especially as it tends to suppress locally developed knowledge and experiences. In denaturalizing grobal management, we propose glocal management as an alternative to the current Anglo‐centric view of the field, and believe this new view can take into account hybridism and local realities. Copyright © 2010 ASAC. Published by John Wiley & Sons, Ltd.
The article addresses aspects of the politics of identity that became manifest in the researcher–researched relationships in the context of an organizational ethnographic field study at a UK-based printing business. As the fieldwork commenced, it quickly became apparent that the researcher’s Brazilian nationality and Latin American ethnic identity were being performed and responded to in certain specific and problematic ways. This study analyzes the dynamics of identity work and identity politics in ethnographic and other qualitative research. However, the specific contribution of this article is that it examines the questions that arise when the typical structures and patterns of research practice – which are themselves embedded in a spatialized politics of knowledge – are reversed. Historically, research in the social sciences (including management and organization studies) has been conducted by researchers from the center in relation to others in the non-center. Furthermore, in so doing, epistemologies, theories and methods developed in and for the center are deployed to examine and explain phenomena in those other places. This article addresses the question of what happens when the researcher is from the non-center and is conducting research on those from the center. This inversion is increasingly common and has significant implications not only for research practice and the politics of knowledge but also for international business relations more generally.
ESPMExistem posições antagônicas quando o assunto é o sistema de pontos estabelecido pela CAPES como critério para avaliação (e ranking) dos programas de pós-graduação e do Currículo Lattes de pesquisadores no país. De um lado, há os que são a favor do sistema sob o argumento de estimular a produção e delimitar parâmetros objetivos de avaliação dessa produção. De outro, há aqueles que assumem o referido sistema como um grande equívo-co da área acadêmica, pois corrompe o princípio da livre reflexão e pressiona os pesquisadores a divulgar resultados preliminares de pesquisa, quando não incompletos. Em meio ao debate, há também posições intermediárias que buscam avaliar os vícios e virtudes do sistema, como é a do professor Pedro Lincoln (Pensata RAE, v. 48, n. 2, p. 114-149, 2008), que aborda desde a dimensão estrutural até as conseqüên-cias individuais do atual sistema, passando pelo crescimento da produção científica em Administração e pelo controle desses índices feito pelas comissões avaliadoras.Todavia, sua pensata leva a entender que algumas questões, tais como o conhecido "publicar ou perecer", o fascínio pela quantificação e o "produtivismo", já foram suficientemente debatidas. Ele adota a posição de que "o Sistema de Avaliação da CAPES é um passo definitivo, e não dá para argumentar de maneira tal que a alternativa à atual pressão por produção acadê-mica fosse a supressão dos indicadores quantitativos do sistema ou mudança radical no Currículo Lattes" (p. 144, grifo meu). É como se o sistema existisse em algum lugar além do social, como algo auto-evidente e irreversível, fora do alcance do debate -e que sua principal virtude foi suprimir a "[...] acomodação ou desvio dos professores para outras atividades, não raro de interesse particular" (p. 145) -, como se hoje esses mesmos professores dedicassem seu tempo exclusivamente a atividades institucionais relacionadas à pesquisa.Outro ponto do qual discordo são as exigências que se fazem para uma pesquisa ocupar um lugar na "Big Science", cuja "permissão" depende de nos submetermos aos padrões impostos pelos países centrais. Isso tem sido problematizado pela perspectiva pós-colonial que busca repensar essa assimetria a partir da periferia como forma de resistência ao que Souza Santos (2005) denomina "colonialidade do saber", capaz de delimitar desde o referencial teórico (em inglês, preferencialmente), até os temas mais relevantes a serem pesquisados.No que diz respeito ao sistema de avaliação em si, há exagerada crença na sua "objetividade", cuja eficácia "nivela a enorme diversidade dos programas ao estruturar-se sob a óptica neutra do desempenho por números" (p. 146, grifo meu), nos moldes do Balanced Score Card (BSC), utilizado no meio empresarial. Aqui é como se toda pontuação atribuída aos canais de publicação (editoras, revistas e eventos) e, conseqüentemente, aos trabalhos publicados não tivesse sido feita por agentes social e politicamente situados.Considerando a forma como esses pontos delimitaram o argumento do professor Lincoln, aparentemente, su...
Este trabalho tem por objetivo discutir como ocorre o processo de construção social do sujeito militar e os mecanismos de controle subjacentes a essa socialização. Resultado de uma pesquisa de mestrado, a análise aborda o corpo como elemento central desse processo, devido ao seu caráter performático na atividade militar. Nesse sentido, autores como Pierre Bourdieu e sua articulação campo-habitus como elemento de reprodução do social, em conjunto com as reflexões de Michel Foucault sobre o poder disciplinar e as tecnologias de docilização dos corpos, nos ajudam a compreender como se processam esses corpos, a partir de uma tecnologização inerente à socialização militar. A metodologia utilizada foi o estudo de caso com a observação não-participante, entrevistas em profundidade e análise documental e de conteúdo. Com base nos resultados, concluímos que há uma variação nas formas de dominação, no sentido de privilegiar técnicas que vão desde uma pedagogia corporal para os soldados, até uma pedagogia moral para os oficiais, como principais instrumentos que visam, sobretudo, a uma espécie de dominação total do sujeito, ou seja, possuí-lo de corpo e alma na organização militar.
O objetivo deste ensaio é apresentar uma introdução ao pensamento pós-colonial a partir da sua origem, das principais vertentes de estudo e de possíveis diálogos entre as tradições anglófona e latino-americana. Para tanto, discutimos os conceitos de subalternidade, descolonização e hibridismo como possibilidade teórica de se explorar a perspectiva pós-colonial nos estudos críticos sobre organizações no Brasil. Embora o debate sobre subalternidade e pós-colonialismo seja relativamente novo nos estudos organizacionais, dentro e fora do Brasil, a revisão da literatura na área mostra que, mesmo fora do contexto da démarche pós-colonial, muitos trabalhos produzidos sobre administração e organizações no Brasil levaram em conta as mesmas preocupações dos autores pós-coloniais. De forma indireta, os trabalhos abordam temas que estão ligados aos efeitos do colonialismo no mundo contemporâneo e ainda reconhecem a necessidade de se descolonizar este campo de estudos quando analisam a questão da dependência cultural na tradição intelectual brasileira e na transferência de tecnologia gerencial entre países do centro e da periferia, quando problematizam o uso de teorias produzidas no Norte Global e buscam referências que valorizem um olhar a partir do Sul Global, e quando identificam a forte presença do hibridismo na dinâmica cultural brasileira. Por outro lado, ao analisar o campo de estudos críticos no Brasil, constatamos a presença de uma visão dicotômica que tende a radicalizar a relação centro/periferia com a separação entre uma suposta crítica nacional e o critical management studies (CMS), reproduzindo um tipo de binarismo intelectual típico da mentalidade colonial, que neste caso busca definir quem é e quem não é crítico. A fim de superar este impasse, propomos um processo de hibridização capaz de reconciliar os dois polos. Ao final do ensaio, argumentamos que o desenvolvimento teórico e político de ambos os lados depende de uma abordagem que explore as fissuras do discurso colonial e se configure a partir de um terceiro espaço de produção do conhecimento.
O objetivo deste artigo é questionar se o conhecimento em gestão e organização (CGO) pode falar um idioma diferente do Inglês e discutir como a hegemonia deste idioma no campo científico tem contribuí-do para a reprodução da mesma lógica colonial que por séculos impediu os nativos de produzirem sentido acerca do que pensavam, falavam e escreviam. Mostramos que o principal instrumento de poder que garante esta hegemonia é o controle dos crité-rios de publicação e circulação do CGO, que tende a marginalizar tudo o que é produzido fora da base linguística controlada pelo Norte. O principal efeito desta lógica é a submissão dos pesquisadores nativos ao controle do Norte, colocando-os na condição subalterna, condenados em sua própria terra a operar segundo uma lógica externa, que define o que é e o que não é conhecimento científico de qualidade na área de gestão e organização.RESUMO PALAVRAS-CHAVE Pós-colonialismo, produção científica, translocalidade, conhecimento científico, língua inglesa. ARTIGO CONVIDADOAbstract This paper's objective is to question whether management and organization knowledge (MOK) is able to speak a language other than English and discuss how the hegemony of this language in the scientific field has contributed to the reproduction of the same colonial logic that for centuries prevented native peoples from making sense of what they thought, spoke and wrote. We show that the main instrument of power that guarantees this hegemony is control over the criteria used for the publication and circulation of MOK, which tends to marginalize everything that is produced outside the linguistic basis controlled by the North. The main effect of this logic is that native researchers submit to control by the North; they find themselves in a subaltern position, condemned in their own country to operate under an external logic that defines what is and what is not quality scientific knowledge in the management and organizational field. keywords Post-colonialism, scientific production, translocality, scientific knowledge, English language. Resumen El objetivo de este artículo es cuestionar si el conocimiento en gestión y organización (CGO) se puede hablar un idioma diferente del
rEsUMoNeste artigo, discutimos a aplicação do método etnográfico na pesquisa científica em Administração. Especificamente, ele tem por objetivo analisar como diferenças de cunho colonial preservam hierarquias sociais que acabam se manifestando na prática desse gênero de pesquisa. Resultado de uma etnografia realizada em uma organização britânica, a análise aborda como o pesquisador brasileiro é percebido pelo pesquisado europeu. Para compreender essa relação, utilizamos a abordagem pós-colonial e sua crítica ao eurocentrismo e à sua pretensão de alcançar um conhecimento "uni-versal". Os resultados permitem concluir que mesmo na função de pesquisador, o sujeito não europeu, ao tomar o sujeito europeu como o Outro da pesquisa, torna-se alvo de uma inversão que o desloca de volta para a posição do Outro, visto pela epistemologia tradicional como objeto de pesquisa do sujeito europeu. Poscolonialismo, investigación cualitativa, etnografía, eurocentrismo, América Latina. PALABRAS CLAVE
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
hi@scite.ai
10624 S. Eastern Ave., Ste. A-614
Henderson, NV 89052, USA
Copyright © 2024 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.