RESUMO: O presente artigo tem por objetivo assinalar e discorrer sobre algumas questões que se erguem e, ao que parece, não se solucionam completamente, ao se pretender definir ou pontuar o motivo pelo qual certas poéticas, e não outras, se tornam canônicas e representativas de uma dada coletividade. Nessa investigação, procurar-se-á problematizar a relação, na modernidade portuguesa, entre a obra de poesia (seus ditos, seus intentos) e o seu suposto alvo de chegada, na medida em que se tornarem claras as dificuldades de acesso e os impasses que aquela viria a impor a este último. PALAVRAS-CHAVE: Fernando Pessoa; Poéticas; Comparatismo; Canonização.ABSTRACT: The present article has the intention of emphasizing and discussing about some questions that arise and seemingly cannot be completely solved, in trying to determine why some poetics and not others become canonical and representative of a certain collectivity. In this study, the focus will be on problematizing the relation, in Portuguese modernity, between the poetry work (its statements, its intents) and its presumed target, as the difficulties of access and impasses brought by that first one to this last one become clear.KEYWORDS: Fernando Pessoa; Poetics; Comparatism; Canonization.Inicialmente, apresentem-se as duas obras sobre a qual este estudo se debruçará, bem como explicite-se uma primeira motivação dessa escolha. Quanto às obras, trata-se do soneto inglês de número "XXXI", dentre os 35 sonnets de Fernando Pessoa, publicados em 1918; mas possivelmente escritos entre 1901 e 1910; e da ode "Sim", de Ricardo Reis, datada de 8 de julho de 1931. Quanto à seleção, esse primeiro motivador se encontra na questão da distância temporal entre as composições, devido a, com base nela, poder-se propor que o soneto "XXXI", escrito em algum ponto da adolescência do poeta (entre seus 13 e 22 anos), ainda contenha algo de seminal; ou seja, uma espécie de semente que, concomitantemente a manter-se como tal, apontaria já para sua implosão nos diversificados ramos em que, figuradamente, se transformou a sua poesia em língua portuguesa. Ao passo que a ode, tendo sido composta em meados de 1931, se relacionaria aos escritos mais próximos do fim da vida do poeta. Contudo, não sendo o critério temporal algo pelo que se possa definir uma trajetória poética, no que tange aos seus amadurecimentos, mudanças, constâncias etc., outros motivadores, diga-se, mais interessantes, serão encontrados ao longo das análises que se seguirão, à medida que os objetivos específicos desta investigação se tornarem mais evidentes.Aponte-se que a análise a seguir abordará o soneto de modo a levantar questões e assinalar problemáticas, a partir dele, em vez de pretender solucioná-las. Contudo, 1 Este texto consiste numa adaptação do estudo homônimo produzido para fins de avaliação final da disciplina Formação do Cânone das Poesias Portuguesa e Mexicana Modernas, ministrada pelo Prof. Dr. José Horácio Costa, a quem aqui se registram sinceros agradecimentos. 2 Mestranda em Literatura Portuguesa pela ...