Este artigo avalia o acesso ao exame Papanicolaou na Estratégia Saúde da Família (ESF), em municípios de uma região de saúde. O controle do câncer do colo do útero depende de uma ESF organizada, portanto, avaliar o acesso ao teste de Papanicolaou revela a qualidade da assistência neste nível de atenção. Trata-se de estudo qualitativo, com dados produzidos em 10 grupos focais, perfazendo 70 participantes, em quatro municípios. Analisaram-se as dimensões organizacional, simbólica e técnica do acesso ao exame preventivo, tendo como condição marcadora o câncer do colo do útero. Os resultados indicaram que residir em zona rural era barreira para o acesso ao exame Papanicolaou e reforçavam as iniquidades. Enfermeiros eram a principal referência para a realização do exame preventivo. A ausência de itens necessários à coleta de material citopatológico foi uma barreira de acesso em todos os municípios. Havia entraves de acesso às mulheres com alguma deficiência e às mulheres lésbicas, com atendimento fragmentado e descontextualizado das singularidades pessoais. Os inúmeros entraves de acesso ao Papanicolaou expuseram a seletividade da ESF na região de saúde, visto que reproduzia a invisibilidade das mulheres com maior vulnerabilidade social e acentuava as desigualdades.
OBJECTIVE To analyze the regional governance of the health systemin relation to management strategies and disputes.METHODOLOGICAL PROCEDURES A qualitative study with health managers from 19 municipalities in the health region of Bahia, Northeastern Brazil. Data were drawn from 17 semi-structured interviews of state, regional, and municipal health policymakers and managers; a focus group; observations of the regional interagency committee; and documents in 2012. The political-institutional and the organizational components were analyzed in the light of dialectical hermeneutics.RESULTS The regional interagency committee is the chief regional governance strategy/component and functions as a strategic tool for strengthening governance. It brings together a diversity of members responsible for decision making in the healthcare territories, who need to negotiate the allocation of funding and the distribution of facilities for common use in the region. The high turnover of health secretaries, their lack of autonomy from the local executive decisions, inadequate technical training to exercise their function, and the influence of party politics on decision making stand as obstacles to the regional interagency committee’s permeability to social demands. Funding is insufficient to enable the fulfillment of the officially integrated agreed-upon program or to boost public supply by the system, requiring that public managers procure services from the private market at values higher than the national health service price schedule (Brazilian Unified Health System Table). The study determined that “facilitators” under contract to health departments accelerated access to specialized (diagnostic, therapeutic and/or surgical) services in other municipalities by direct payment to physicians for procedure costs already covered by the Brazilian Unified Health System.CONCLUSIONS The characteristics identified a regionalized system with a conflictive pattern of governance and intermediate institutionalism. The regional interagency committee’s managerial routine needs to incorporate more democratic devices for connecting with educational institutions, devices that are more permeable to social demands relating to regional policy making.
O estudo discute as linhas de tensões do processo de acolhimento das equipes de saúde bucal, no Programa Saúde da Família, no Município de Alagoinhas, Bahia, Brasil, tomando como eixo orientador os fluxogramas analisadores do processo de trabalho em saúde. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, tendo como técnicas de coleta de dados: entrevista semi-estruturada e observação sistemática. Os sujeitos do estudo foram 17 pessoas: grupo I (cirurgiões-dentistas e auxiliares de consultórios dentários - 6); grupo II (outros trabalhadores de saúde - 6); grupo III (usuários - 5). Os resultados revelaram que o primeiro contato do usuário com a unidade de saúde da família é realizado na recepção, espaço privilegiado para utilização das tecnologias leves, sendo manifestado de forma tensa e conflitante, porém com potencialidade para construir alternativas de mudança. O processo terapêutico ocorre de distintas maneiras: consulta clínica, atendimento de urgência, retornos programados e encaminhamentos externos a outros serviços da rede. Contudo, as equipes de saúde bucal imprimem diferentes formas de acolhimento, ficando na dependência do compromisso e da singularidade dos sujeitos que atuam na prática.
Estudo sobre a prática de saúde bucal no PSF de Alagoinhas BA (2001-2004), com o objetivo de analisar os dispositivos que orientam a atenção integral à saúde bucal: vínculo, acolhimento, autonomia, responsabilização e resolubilidade. A metodologia é de natureza qualitativa, numa perspectiva histórico-social. Os materiais empíricos foram entrevistas com trabalhadores, gestores e usuários, observação da prática e fontes documentais. Os resultados revelam que a prática é organizada através de ações individuais e coletivas, construídas por uma demanda reprimida. O atendimento é fragmentado com a valorização excessiva da técnica e da especialidade, cujo eixo é ordenado pelo modelo médico-centrado, com resolubilidade limitada. O acolhimento é manifestado através de uma relação tensa e conflitante, porém com potencialidade para construir alternativas de mudança. Vínculo e autonomia entrecruzam-se no resgate da relação trabalhador-usuário e no encontro de suas potencialidades, possibilitando horizontalizar saberes, estreitar laços e consolidar afetos. Enfim, a prática da saúde bucal é plena de conflitos e contradições e se constitui em potencial ferramenta de mudança nos processos de trabalho, convivendo com o velho (fragmentação) e o novo (integralidade), num processo inacabado, em construção.
RESUMO Trata-se de uma revisão de literatura que tem por objetivo identificar o que expressaram as publicações dos principais periódicos nacionais da área da saúde coletiva, sobre gestão, políticas e práticas em saúde direcionadas à população LGBT, no período compreendido entre 2004 e 2018. A busca de documentos se deu por meio da ferramenta ‘busca integrada’, sendo selecionados artigos disponíveis na íntegra que estavam indexados na base de dados Scientific Electronic Library Online (SciELO). Foram analisadas as publicações de dez periódicos nacionais, e selecionadas 27 publicações que discutiam políticas públicas de saúde para a população LGBT. Observou-se pouca expressão de temas relacionados com a população LGBT, nos 14 anos do recorte temporal proposto por este artigo, uma vez que, dos 14.700 artigos encontrados, somente 92 faziam referência à população LGBT, e apenas 27 discutiam as políticas de saúde. Desse modo, verifica-se a necessidade de realização de pesquisas direcionadas à análise de implantação das políticas públicas de saúde LGBT, que subsidiem a construção de dados epidemiológicos e informações que traduzam as necessidades em saúde dessa população.
Resumo: O artigo tem como objetivo avaliar a organização e o acesso à Rede de Atenção à Saúde em uma região de saúde, na perspectiva das usuárias. Foram construídas trajetórias assistenciais de mulheres com lesão intraepitelial escamosa de alto grau do colo do útero, adscritas a diferentes modalidades de atenção primária à saúde (APS) de zonas urbana e rural, em municípios do interior e da sede de região de saúde do Nordeste do Brasil. As mulheres utilizavam a APS como serviço de busca regular para ações preventivas e assistenciais, mas reportaram barreiras de acesso para consultas médicas, sobretudo nas zonas rurais. Avaliações positivas foram vinculadas ao acolhimento e à representação da unidade básica de saúde/unidade de saúde da família (UBS/USF) como lócus disponível para cuidados. Percepção de baixa resolutividade da APS esteve ligada à demora para o agendamento das referências, abastecimento irregular/insuficiente de medicamentos e rotatividade de médicos. As mulheres indicaram dificuldade de acesso à atenção especializada, mais evidente nos municípios do interior da região, com utilização de serviços públicos e privados. Todas as usuárias da sede da região realizaram exames de confirmação diagnóstica e cirurgia pelo Sistema Único de Saúde. Apoio de familiares, amigos e políticos atravessaram as trajetórias assistenciais. Comunicação interprofissional foi quase inexistente e entre profissional/usuária, precária. A rede regionalizada apresentou-se desarticulada e com fluxos desordenados, não garantindo acesso oportuno às usuárias dos municípios do interior e apresentando dificuldades adicionais àquelas da área rural, mesmo no município sede, desvelando a incompletude dos arranjos regionais e a manutenção de desigualdades de acesso inter e intramunicipal.
RESUMO OBJECTIVE:To analyze the breadth of care coordination by Primary Health Care in three health regions. METHODS:This is a quantitative and qualitative case study. Thirty-one semi-structured interviews with municipal, regional and state managers were carried out, besides a cross-sectional survey with the administration of questionnaires to physicians (74), nurses (127), and a representative sample of users (1,590) of Estratégia Saúde da Família (Family Health Strategy) in three municipal centers of health regions in the state of Bahia. RESULTS:Primary Health Care as first contact of preference faced strong competition from hospital outpatient and emergency services outside the network. Issues related to access to and provision of specialized care were aggravated by dependence on the private sector in the regions, despite progress observed in institutionalizing flows starting out from Primary Health Care. The counter-referral system was deficient and interprofessional communication was scarce, especially concerning services provided by the contracted network. CONCLUSIONS:Coordination capacity is affected both by the fragmentation of the regional network and intrinsic problems in Primary Health Care, which poorly supported in its essential attributes. Although the health regions have common problems, Primary Health Care remains a subject confined to municipal boundaries.
This study examines the primary health care (PHC) organization in response to the COVID-19 epidemic. This is a descriptive study based on the document analysis of the countries’ responses to the coronavirus pandemic with emphasis on PHC. In various countries, there have been different organizations and impacts of strategies since they have conducted actions according to the local characteristics of disease transmission, demography, public health services organization, and health system’s capacity and financing, especially in the PHC area. A significant change during the pandemic has been the increase in telephone and video consultations incorporating health information technology. An efficient PHC, guided by essential actions, achieves more suitable results. Also, each country’s cumulative capacity or experience makes the difference facing the emerging demands on different health systems.
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