Violência urbana e repercussão nas práticas de cuidado no território da saúde da família [Urban violence and effect on care practices in family health strategy territories]

Abstract

RESUMO Objetivo: identificar a repercussão da violência urbana nas práticas de cuidado de enfermeiros, técnicos de enfermagem e agentes comunitários de saúde que atuam em territórios de abrangência da saúde da família, em Niterói, município do Estado do Rio de Janeiro. Metodologia: pesquisa descritiva do tipo estudo de caso. Dados coletados em duas unidades de saúde da família. Foram entrevistados 11 profissionais de saúde no terceiro trimestre de 2014. Optou-se pela entrevista semiestruturada e procedeu-se à análise de conteúdo para o tratamento dos depoimentos. Resultados: os profissionais percebem a violência urbana como algo negativo e que compromete as suas ações de cuidado, principalmente, quando as atividades são realizadas fora das unidades. Conclusão: são necessárias discussões sobre a problemática de forma intersetorial para que as estratégias elaboradas sejam resolutivas. Palavras-Chaves: Violência; saúde da família; atenção primária à saúde; enfermagem.

Violência sofrida por enfermeiros do atendimento pré-hospitalar em áreas de risco ou conflito urbano

“…Corroborando com estes achados, estudo realizado em Niterói (RJ), em 2014, revelou que a incidência e a prevalência da violência é uma das principais causas de adoecimento e ameaça à vida dos trabalhadores (Machado et al, 2016). Similares aos achados deste estudo, a violência gera emoções diversas que são da ordem do adoecer (Fontes, 2017;Zapparoli & Marziale, 2006).…”

“…Dentre os episódios de violências relatados, foram destacados tiros e intervenções policiais. Além da dificuldade de atendimento à população, realização de consultas, oferta de medicamentos e cuidados gerais de saúde (Machado et al, 2016). Como neste estudo, situações estressantes que envolvem ameaças de morte, tráfico de drogas, tiroteios, assaltos e até mesmo assassinatos podem ser presenciadas pelos enfermeiros da urgência e emergência (Araújo & Sofield, 2011;Barbar, 2018;Freitas et al, 2019).…”

“…Pesquisas com trabalhadores da atenção domiciliar revelam como experiências de violência no trabalho o roubo de carros da equipe de saúde enquanto realizavam atendimento e tiroteio entre policiais e traficantes e entre fações rivais. Sobre os sentimentos das equipes diante da violência, o medo estava presente em todos os relatos dos participantes, além de acuado, assustado, ansioso, desesperado, inseguro, vulnerável e em pânico (Barbar, 2018;Freitas et al, 2019;Gonçalves et al, 2017;Machado et al, 2016;Nascimento & Araújo, 2017).…”

“…Diariamente, confrontos armados, assaltos, números de vítimas baleadas e mortas ganham visibilidade pelas manifestações populares, pela cobertura da imprensa e por dados apresentados em aplicativos (Machado, Daher, Teixeira & Acioli, 2016). Porém, uma dimensão pouco discutida nos estudos da área de saúde trata-se das consequências da violência no cotidiano dos moradores que necessitam de atendimentos emergenciais e dos medos enfrentados pelos trabalhadores da saúde, em particular, enfermeiros e socorristas que desenvolvem atividades nesses locais (Gonçalves, Queiroz & Delgado, 2017).…”

“…Nesse sentido, a violência torna-se um problema social que afeta a vida dos usuários do sistema de saúde e dos trabalhadores que a eles deveriam assistir, uma vez que diversos tipos de atendimento no interior das comunidades passam a ser suprimidos (Barbar, 2018;Farias, Morais Filho, Dantas & Rocha, 2010;Gonçalves et al, 2017), refletindo na saúde pública e na oferta de serviços de saúde nos territórios mais vulneráveis (Machado et al, 2016). A forma manifesta da violência nos territórios irá determinar a barreira de acesso da população aos serviços de saúde ou a assistência recebida através dos cuidados das equipes de saúde (Gonçalves et al, 2017;Machado et al, 2016).…”