D esde os anos 1980, centenas de milhares de indivíduos têm ocupado terras no Brasil. Nelas montam acampamentos e passam a reivindicar sua redistribuição. Tais ocupações distinguem-se das que, ao longo da história do país, foram e ainda são feitas em áreas desocupadas por interessados em formar lavouras. Enquanto naquelas a entrada nas terras era diluída no tempo, agora elas são realizadas de uma só vez e em grupo, implicando a formação de um acampamento. Se antes as ocupações não necessariamente vinham acompanhadas de reivindicações ao Estado, atualmente se apresentam como demandas de reforma agrária e são assim interpretadas pelas autoridades da República que as têm acolhido e redistribuído as terras entre os acampados.Até recentemente, as ocupações com acampamentos não atraíam a atenção dos estudiosos do mundo rural. A maioria deles, preocupada em examinar o que ocorria após a redistribuição das terras, interessou-se pelos assentamentos implantados pelo Estado nas áreas que haviam sido ocupadas (Medeiros e Leite, 1999;Martins, 2003;Spavorek, 2003;Leite et alii, 2004) e não se interrogou a respeito das ocupações que lhes haviam dado origem. Outros centraram o olhar nos movimen-
107