Introdução 1O sexo não é apenas uma propensão biológica dos seres humanos, mas um campo de relações sociais onde a natureza e a cultura andam juntas. De acordo com Rubin (1984), a sexualidade é um produto da atividade humana, geograficamente localizada e historicamente datada. Segundo Scott (1990), gênero refere-se à "organização social da relação entre os sexos" (p. 2), atentando para o caráter fundamentalmente social da distinção entre os sexos masculino e feminino. Assim como raça e geração, gênero é uma categoria social com significados políticos, culturais e econômicos, que define hierarquias, viabiliza privilégios e perpetua desigualdades (Castro, 1992). Reconhecer o significado político da atuação conjunta dessas categorias sobre os indivíduos implica reconhecer o sistema de privilégios atuantes dentro de e entre esses diferentes sistemas. Uma vez que gênero não é a única categoria social que atua sobre os indivíduos, não existe uma forma universal de dominação masculina, e nem o sistema de gênero se resume apenas ao binarismo masculino/feminino (Piscitelli, 2008). No entanto, não é o objetivo deste estudo discorrer sobre como as categorias de articulação operam em conjunto para construção de desigualdades, e sim nos ater aos valores considerados femininos de um grupo de mulheres geografica e historicamente localizado, e como esses valores se relacionam à atividade profissional delas. 2