Resumo: O objetivo deste estudo é compreender as experiências (pessoais, religiosas, sociais e culturais) e as transformações desenvolvimentais das benzedeiras ao longo de suas trajetórias de vida, bem como sua relação com a promoção da saúde em suas comunidades. Foram entrevistadas 10 benzedeiras residentes em cidades do interior dos estados de São Paulo e Minas Gerais, com média de 62,5 anos de idade e de 26,2 anos de ofício. O referencial teórico empregado foi o da Rede de Significações, associado às contribuições etnopsicológicas. A maioria relatou a transmissão do ofício a partir de um familiar, destacando a prática da benzeção como algo que pode ser ensinado, aprendido e transmitido por meio da tradição oral. Mesmo assim, o ofício também é compreendido como um dom inato que atravessa o desenvolvimento, o que requer dedicação, paciência e abnegação. A dificuldade de transmitir o ofício aos mais jovens pode estar relacionada a uma maior urbanização, ao maior acesso a equipamentos formais de saúde, bem como revela a submissão da benzeção a uma lógica biomédica, dentro de um sistema de saúde que, por vezes, negligencia os sistemas populares de cuidado.Palavras-chave: Práticas Religiosas; Rituais de Cura; Religião e Saúde Mental; Psicologia do Desenvolvimento.
Undoing the "Evil eye": Magic, Health and
Development in the Craft of Folk HealersAbstract: The objective of this study is to understand the experiences (personal, religious, social and cultural) and the developmental transformations of the folk healers throughout their life trajectories, as well as their relation with the promotion of health in their communities. Ten folk healers were interviewed in cities in the interior of the states of São Paulo and Minas Gerais, with a mean age of 62.5 years and a mean of 26.2 years in office. The theoretical reference used was that of the Network of Meanings, associated to ethnopsychological contributions. Most reported transmission of the craft from a family member, highlighting the practice of folk healing as something that can be taught, learned and transmitted through oral tradition. Still, the craft is understood as a gift that runs through the development, which requires dedication, patience and self-denial. The difficulty of transmitting the job to the younger ones may be related to greater urbanization, greater access to formal health equipment, as well as revealing the submission of the blessing to a biomedical logic, within a health system that sometimes neglects popular systems of care.