Trabalho docente, desigualdades de gênero e saúde em universidade pública

Abstract

Resumo O objetivo do presente estudo foi problematizar aspectos do trabalho docente do ensino superior em relação a gênero, políticas de avaliação e saúde. Para tal, realizou-se uma pesquisa social de caráter qualitativo sob a vertente dos estudos participativos e do enfoque do feminismo materialista. A análise do material foi efetuada por meio da análise de conteúdo, na modalidade temática, e identificados quatro temas principais: conflitos entre trabalho docente e trabalho doméstico; trabalho docente, maternidade e culpa; políticas de avaliação do trabalho docente e relações de gênero; divisão sexual do trabalho e docência. Percebeu-se o quanto as demandas da esfera produtiva têm extrapolado o tempo da jornada de trabalho para a esfera reprodutiva e a vida privada das professoras, comprometendo a luta e a defesa pela saúde que podem levar a processos de sofrimento e adoecimento. O tema da divisão sexual do trabalho em universidades públicas desponta como importante questão que evidencia sobrecarga de trabalho e mal estar psíquico, especialmente em um momento em que o trabalho docente se torna crescentemente competitivo. Concluiu-se pela imperativa necessidade de investimentos em políticas públicas que garantam igualdade de gênero no trabalho do ensino superior.

Sobrecarga de trabalho em mulheres: um estudo sobre a saúde mental de servidoras da UEFS durante o contexto pandêmico

“…O presente artigo aborda as condições de vulnerabilidade a que as mulheres são submetidas por conta da sobrecarga de trabalho nas esferas produtivas e reprodutivas, que tem como consequência a produção de sofrimento psíquico nesta população (PINHO; ARAÚJO, 2012;SOUZA et al, 2021), condição bastante agravada durante o contexto de trabalho em regime home office em virtude da pandemia de covid-19 2 (FERREIRA et al, 2022).…”

“…Historicamente, as relações de gênero que estabeleceram os papéis sociais das mulheres em nossa sociedade, basearam-se na existência de uma suposta natureza feminina ligada ao cuidado materno, designando, assim, a mulher à esfera reprodutivaconfinada no espaço privado -, cabendo ao homem o prestigiado campo produtivo, gerando desigualdades de acesso a funções econômicas, sociais e políticas que, claramente, perduram até os dias atuais, pois do contrário as mulheres não continuariam sendo as principais responsáveis pela realização do trabalho doméstico, mesmo diante de sua maior inserção no mercado de trabalho (BRITO, 1999;MONTEIRO;MOREIRA, 2018;SOUZA et al, 2021).…”

“…Nesse sentido, Souza et al (2021) afirmam que os papéis de gênero precisam ser considerados enquanto promotores de vulnerabilidade ao adoecimento, já que a incumbência simultânea de responsabilidades profissionais e familiares às mulheres tem gerado grande sobrecarga. Então, como consequência deste cenário, diversos estudos têm apontado essa dupla jornada de trabalho como provável causa da prevalência de transtornos mentais comuns (TMC) em mulheres (ARAÚJO; PINHO; ALMEIDA, 2005; FARIAS; ARAÚJO, 2011;ALARCON;GUIMARÃES, 2016;MOTA;SILVA;AMORIM, 2020;FERREIRA et al, 2022).…”