A linguagem da ação é um dos muitos modos de conhecer a si mesmo, de conhecer o outro, o mundo, o espaço e o tempo em que vivemos, e a nossa cultura. 1 (p. 47) Observar, entrevistar, interagir, registrar. Conviver, compartilhar, entender, compreender -e interpretar! Esse é o processo das pesquisas qualitativas, que buscam a singularidade, o próprio e o apropriado pelo sujeito, na medida em que este constrói e é construído pelo contexto em que está inserido. É preciso olhos de ver mais que de olhar. É preciso ouvidos de ouvir mais que de escutar. É preciso que se disponha o pesquisador a despir-se de si mesmo, quanto possível, para vestir-se da experiência do outro, do olhar do outro, do sentir do outro. Depois, então, vestir-se novamente, mas com as impressões recolhidas da experiência alheia, e construir um discurso sobre tudo isso.No entanto, se os olhos nem sempre são de ver e os ouvidos nem sempre de ouvir, as mãos... Ah! As mãos são e serão sempre de fazer! Quando as mãos fazem é que nos reconhecemos, nos revelamos, para nós e para os outros. É quando somos mais nós mesmos, pura e simplesmente. Se os olhos enganam, se os ouvidos tapeiam, as mãos nunca mentem.É através do fazer no mundo que o ser humano constrói a si mesmo. É através do fazer que sentidos se revelam, se tornam fatos (feitos!), visíveis e explicáveis, mesmo que não conscientemente percebidos. No momento da ação, as defesas, as amarras mentais ou comportamentais se afrouxam e o sujeito permite a si mesmo expressar-se.Em terapia ocupacional, o fazer ocupa lugar central. É o elemento organizador e ordenador de toda prática profissional e, pensamos, pode vir a ocupar também um lugar importante na pesquisa.Esse processo, se bem conduzido, associado às outras formas de apreensão, permite, ao pesquisador terapeuta ocupacional, fazer uma leitura do universo daquele que faz de uma forma mais ampla, complementando, corroborando ou contradizendo os dados obtidos por meio da observação (participante ou não), da entrevista ou da ação conjunta.