“…Embora inúmeros comentadores já tenham avaliado o caráter "civilizatório" da CLTE-MTA (Bigio, 2000;Diacon, 2006;Lima, 1998), alguns estudos recentes dedicados à história da ciência vêm destacando o papel das expedições efetuadas no âmbito da Comissão na produção de um inventário dos recursos naturais do território. Realmente, a incorporação de naturalistas, botânicos, geólogos e zoólogos nos quadros da Comissão dá força ao enunciado que entende que no processo de formação territorial, a apropriação e domínio do espaço comporta igualmente um campo que valoriza o trabalho intelectual, relacionando as imagens produzidas a respeito do território ao processo de sua efetiva transformação: Na Comissão de Mato Grosso ao Amazonas, ciência, caminhos e comunicações adentraram o extremo norte do país juntos, e, nessa conjunção, era persistente a visão de que na Amazônia, sobretudo, caberia, a um só tempo, o "sertão" como abandono por parte dos poderes públicos e "paisagem" destinada a desaparecer; o "território vazio" a ocupar, povoar e modernizar; a "fronteira" a delimitar e precisar nos confins do país; a "floresta" e seus animais, doenças e rios encachoeirados; e, foco principal do nosso interesse neste artigo, o 'campo' inaudito para estudos, pesquisas e levantamentos científicos (Sá;Sá;Lima, 2008, p. 783).…”