Este artigo propõe analisar dados de difluência de um sujeito, V, entre 2 e 3 anos de idade, para verificar a hipótese de que trechos disfluentes do enunciado não são aleatórios do ponto de vista prosódico, nem avessos à dinâmica própria da fala espontânea. Dados de reanálise morfológica, de pequenas pausas em falsos começos e declinação de F0 também foram observados e comparados com os de amostras da fala adulta. Os resultados mostram os trechos disfluentes tendem a ocorrer fora das sílabas portadoras de acento frasal. A fala da criança não exibe a mesma declinação de F0 em sucessivas repetições e no uso de sons e sílabas preenchedoras. A conclusão é que as disfluências infantis mostram a aquisição da estrutura prosódica do enunciado, numa fase de maior complexidade sintagmática e maior demanda enunciativa-discursiva na fala da criança. Recomendamos que o conceito de gagueira fisiológica seja melhor dimensionado.