Raça e gênero na construção de trajetórias de mulheres quilombolas

Abstract

Resumo: No texto objetivamos analisar como um grupo de mulheres moradoras da Comunidade Quilombola Mato do Tição, situada na Região metropolitana de Belo Horizonte, mobiliza elementos para a construção do referente “mulher quilombola” na construção de suas identidades. Para tanto, a análise passa por reflexões em torno das práticas e dos discursos a partir dos quais essas mulheres tornaram-se quilombolas e das maneiras como mobilizam a categoria do gênero. O presente artigo partiu de uma etnografia, realizada por meio de observação participante, entrevistas e conversas direcionadas, cujo foco foi a trajetória de cinco mulheres da comunidade que protagonizam e mantêm o cotidiano do quilombo. Demonstramos que elas estão produzindo significados e deslocando os sentidos sobre sua própria identidade a fim de superarem as opressões sociais em torno do pertencimento étnico-racial e de gênero.

Racismo E Autoestima Da Mulher Negra Universitária

“…Desta forma, a mulher negra tem sua imagem associada a erotização, escravização e prostituição, não estando vinculada à afetividade. Enquanto a mulher branca, encontra-se como ideal para o casamento, aliado à sua exaltação (CARNEIRO, 1995). À vista disso, tanto homens brancos, quanto homens negros em ascensão, que buscam essa diferenciação social, procuram relacionar-se com mulheres brancas, colocando as mulheres negras fora desta cota.…”

Os princípios do Bem Viver na relação com o protagonismo das mulheres

“…Em muitas oportunidades, as demandas e propostas devem ser materializadas em histórias de mulheres que, além de torná-las visíveis, também procuram inscrever a violência e a invisibilidade como mulheres quilombolas. Isso, em parte, permite que elas se articulem com outros grupos e referências relacionadas às lutas pela igualdade de gênero, conectando a posição de subordinação em que as mulheres se encontram (Ferreira, 2020).…”

“…Por colonização discursiva, entende-se aquela prática acadêmica do feminismo ocidental sobre as mulheres do terceiro mundo que repercute em suas vidas e lutas. O conceito foi proposto em 1986, impelindo uma revisão crítica da obra teórica do feminismo ocidental, suas metodologias eurocêntricas, universalizando falsamente e atendendo a seus próprios interesses; ou seja, um enredo extremamente atual ao se pensar no contexto das mulheres quilombolas (Ferreira, 2020).…”

“…Diferentes autores concordam que as comunidades quilombolas devem enfrentar os reais problemas de desigualdade e violência de gênero além do discurso ou proposta que, em certa medida, enfatiza os aspectos positivos de sua cultura e sua relação com a natureza (Ferreira, 2020;Durand, 2020;Dos Santos Muniz, 2019).…”

Histórias de mulheres artesãs da comunidade quilombola lagoa dos anjos, candiba, bahia: luta, resistência e compartilhamento de saberes-fazeres

“…E acho que nunca os tirei. O sol ainda brilha na estrada e eu nunca passei[...] Por isso uma força me leva a cantar, por isso essa força estranha no ar, por isso é que eu canto, não posso parar, por isso essa voz tamanha"8 . Essa é uma reflexão fundante para avançarmos no debate teórico-prático das questões étnico-raciais e da desigualdade social no Brasil, que, por sua vez, na perspectiva governamental, tem, nos últimos tempos, retrocedido, considerando as posições defendidas por lideranças que assumem cargos estratégicos no Governo Federal.…”