Primarização e Relações de Trabalho em uma Empresa Mineradora de Minas Gerais

Abstract

Para enfrentar os desafios da crescente competitividade, muitas empresas implementaram a terceirização sem análise e planejamento adequados, tendo sido alcançados prejuízos ao invés dos resultados esperados. Isso as levou a adotar o processo inverso: a primarização – em que as empresas incorporam as atividades terceirizadas, trazendo empregados terceirizados ao seu quadro funcional. O objetivo neste estudo foi analisar as características da primarização em uma empresa de grande porte. A pesquisa, qualitativa, foi feita mediante pesquisa de campo baseada em entrevistas semi-estruturadas associadas à análise documental em uma mineradora de grande porte localizada em Minas Gerais. Os resultados mais significativos do estudo sugerem que a primarização foi adotada pela necessidade de ganhos de competitividade, que sua adoção proporcionou melhoria das condições de trabalho pelo afastamento da precarização e aumento do comprometimento dos empregados, o que propiciou a melhoria da qualidade dos serviços e do atendimento aos clientes. Conclui-se que a primarização foi usada para solucionar problemas ligados à falta de planejamento na implementação da terceirização e na definição das atividades que realmente poderiam ser terceirizadas, com foco na redução de custos e no envolvimento dos empregados no processo produtivo. Em outras palavras, o estudo sugere que as técnicas de gestão se submetem ao apelo dos custos, sendo sua utilização regida menos pelos ganhos sistêmicos do que pela lógica do curto prazo.

Representações sociais de relações de trabalho: um estudo com trabalhadores primarizados

“…Com a adoção da primarização a estrutura horizontalizada é verticalizada, resultando em um processo no qual as organizações tornam a gerir, por conta própria, as atividades antes delegadas para terceiros, passando a ter novamente, o total controle sobre elas (MAGALHÃES et al, 2011). Esse tipo de estrutura organizacional vem sendo retomada com frequência pelas organizações e, no Brasil, todas as capitais -de acordo com a Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) e com o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) -apresentaram, no período de 1996 a 2005, o fenômeno da primarização.…”

“…Estima-se que, nas empresas privadas, o processo tenha se iniciado a partir de 2005, e que impactou todos os níveis das organizações, do chão de fábrica à comercialização do produto final. Por se tratar de um fenômeno recente, ainda são poucos os trabalhos nesse sentido, com exceção de Magalhães et al (2011), uma lacuna que estudos como este pretende diminuir. A metodologia será apresentada a seguir.…”

“…Os canais formalizados, via sindicato, por exemplo, ficam em segundo plano: Após a primarização, os entrevistados passaram a pertencer a outro sindicato, o mesmo dos demais trabalhadores da alfa. Os benefícios que os empregados passaram a desfrutar pela intervenção do sindicato -como o convênio odontológico e a bolsa escolar, explicitamente citados -distorcem o papel dessa organização, que passa a ser vista de forma esvaziada, apenas como intermediadora dos benefícios, o que confirma dados de pesquisas recentes, como a de Magalhães et al (2011).…”