A Mata Atlântica brasileira, apesar de ser um dos biomas mais ameaçados do mundo, continua sendo um dos grandes pontos quentes da biodiversidade global e do endemismo de aves. O relevo desempenha um papel significativo na influência do grande número de espécies de aves endêmicas nesta região. O Cuspidor-de-máscara-preta (Conopophaga melanops), endêmico da Mata Atlântica, é tipicamente encontrado em florestas de baixada ao longo da costa leste do Brasil, variando do nível do mar a 800 metros de altitude. Devido à sua alta sensibilidade à distúrbios ecológicos, ele serve como um excelente bioindicador da qualidade ambiental. Durante uma expedição de amostragem de campo no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, capturamos dois indivíduos de C. melanops a altitudes de 1287 e 1409 metros. Para explicar esse novo registro de altitude, propomos duas hipóteses: Primeiramente, a falta de amostragem prévia nas regiões mais altas da Mata Atlântica, provavelmente devido ao acesso limitado e estudos históricos escassos, pode ter resultado na subnotificação dessa espécie em altitudes mais elevadas. Em segundo lugar, existe a possibilidade de que as populações de aves estejam migrando para áreas mais preservadas em altitudes mais elevadas devido à perda de habitat nas regiões de baixada. A segunda hipótese levanta implicações importantes para a conservação do Cuspidor-de-máscara-preta, uma vez que essa espécie depende de habitat intactos para sua sobrevivência, devemos considerar se o desmatamento em sua área histórica de ocorrência pode estar impulsionando esses novos registros.