MARCELO MILANO FALCÃO VIEIRA • MIGUEL P. CALDAS INTRODUÇÃOObservamos em outros números desta série (Vergara e Caldas, 2005) que, a despeito da predominância da ortodoxia funcionalista no campo de estudos organizacionais, ao menos desde o final da década de 1980, vertentes de resistência têm surgido para enfrentar tal hegemonia na área. Por um lado, ainda mais próximo do que Burrell e Morgan (1979) chamariam de "sociologia da regulação", surge a alternativa interpretacionista, à qual dedicamos um número da série. Por outro, afastando-se da sociologia da regulação, surgem a teoria crítica das organizações -mais orientada à mudança social -e, mais recentemente, abordagens pós-modernas em estudos organizacionais, cuja alocação nos quadrantes de Burrell e Morgan é problemática, pois, embora surja da contradição à ortodoxia positivista, nega igualmente a teoria crí-tica e os modelos mais radicais.Neste último número da série, oferecemos aos vários docentes que não tiveram até hoje muito acesso a tais abordagens críticas e pós-modernas uma primeira aproximação às alternativas epistemológicas mais recentes ao mainstream funcionalista. A eles dirigimos esta introdução, com o pedido de escusas aos muitos já iniciados, para quem ela parecerá um tanto básica. Além de introduzir os dois textos incluídos neste número como amostras da produção acadêmica crítica (no caso do texto de Valérie Fournier e Chris Grey) e da pós-moderna (artigo de Robert Cooper e Gibson Burrell), objetivamos aqui oferecer uma primeira aproximação a tais tradições alternativas, procurando mostrar as diferenças entre as duas
TEORIA CRÍTICA E PÓS-MODERNISMO: PRINCIPAIS ALTERNATIVAS À HEGEMONIA FUNCIONALISTA Marcelo Milano Falcão VieiraProfessor da FGV-EBAPE E-mail: mmfv@fgv.br
Miguel P. CaldasProfessor Associado da Loyola University New Orleans E-mail: mpcaldas@loyno.edu vertentes, bem como sua diversidade interna, posto que, longe de serem monolíticas e convergentes, possuem grande diversidade e variância internas. Objetivamos também analisar brevemente sua utilização no Brasil nos úl-timos 20 ou 25 anos, bem como discutir possíveis direcionamentos para pesquisa futura dentro dessas tradições alternativas.De início, precisamos esclarecer alguns pontos de partida, de forma que o leitor possa entender, consistentemente ao tópico em discussão, os pontos de vista aqui expressos de maneira crítica, reflexiva e relativa, e não confundi-los com uma pretensa expressão da "verdade", neutra e distanciada, tão típica da hegemonia funcionalista. Primeiro, devemos deixar patente que nós, autores desta introdução, não somos neutros, temos nossa posição e percepção de mundo, da teoria e do nosso campo, subordinadas a nossas posições sociais e contextos pessoais. Por exemplo, escrevemos ambos no contexto da análise organizacional, que de per se apresenta diferenças fundamentais em relação à análise crítica e pós-moderna em outros campos, como filosofia, artes, ou mesmo sociologia de forma geral. Ambos tivemos ao menos parte de nossa formação acadêmica no exterior, o qu...