Peter Pan e infância eterna: sob o signo da criança heroica

Abstract

Este artigo traça o retrato de Peter Pan como criança que persiste em manter o estado de infância e apresenta a sua natureza mítica e arquetipal. Ancora-se nos contributos de Jung, da história da mitologia e da hermenêutica simbólica de Gilbert Durand. Das lições advindas da leitura e análise da obra de Barrie, é preciso recordar que as pessoas crescidas se esquecem de alçar voos, pois se afastam da imaginação, recalcam-na, recusam-na mesmo em nome da razão, do lado diurno, solar, patriarcal da vida, em detrimento do lado noturno, místico, lunar, matriarcal da vida.

Educação teatral acessível às infâncias e juventudes com deficiência visual

“…Através da participação neste projeto de extensão pude perceber que a educação artística e, sobretudo, a educação teatral são caminhos que oferecem possibilidades para a construção de novas formas de aprendizagem, se esta for considerada enquanto invenção de mundo e não apenas representação de um mundo dado, além de ser um campo que oportuniza a reflexão sobre as práticas por meio das teorias construtivistas (VYGOTSKI, 2009), teorias da diferença e da multiplicidade (DELEUZE, 1953(DELEUZE, , 2018, da fenomenologia (MERLEAU-PONTY, 1999), nos estudos sociais da infância (PRADO, 1999(PRADO, , 2021LARROSA, 2002LARROSA, , 2003SAYÃO, 2002SAYÃO, , 2008QVORTRUP, 2010a;SOUZA, 2014SOUZA, , 2016MACHADO, 2013;FONSECA, 2021), da juventude (PAIS, 1990(PAIS, , 2005(PAIS, , 2011REGUILLO, 2003) e da deficiência (STIKER, 1999;GARLAND-THOMSON, 2002;CAMPBELL, 2009;SHAKESPEARE;WATSON, 2020;AMIRALIAN, 2007;SOUSA, 2009SOUSA, , 2015SOUSA, , 2018FRANÇA, 2013;ANGELUCCI, 2014;. O encontro com o teatro em contextos outros como na escola propicia que as crianças reconheçam o teatro, bem como a educação teatral, como espaços acessíveis e cotidianos que legitimam e acolhem suas expressões, desejos, corporeidades, modos de ser no mundo, onde sintam-se potentes, incentivadas e provocadas.…”

“…Umas das principais críticas dos estudos do campo da deficiência às noções de cuidado perpassam esta ideia de infantilização da vida. Essa perspectiva, porém, é problemática para nossa compreensão, pois concebe a infância como um lugar de inferioridade, se esquecendo que a infância é uma categoria culturalmente complexa e produtora de diversos saberes, potências e de suas próprias culturas infantis (PRADO, 1999(PRADO, , 2021SOUZA, 2014SOUZA, , 2016FARIA;RICHTER, 2009;MACHADO, 2013;FONSECA, 2021). Com isso, tratar esse cuidado exacerbado como uma noção infantilizadora não nos cabe, mas podemos compreender que as: Com isso, não queremos dizer que o processo de construção de independência e autonomia das infâncias e juventudes com deficiência visual não nos é caro, mas pontuamos que seria oneroso para uma educação estética e sensível dispensar as relações de contato com outros corpos.…”

“…Relacionar-se com pessoas com deficiência interpretando-as como eternas crianças ou jovens incapazes implica também em não reconhecer que as crianças e os jovens têm poder de agência no mundo, constroem suas próprias culturais infantis (PRADO, 1999(PRADO, , 2021SOUZA, 2014SOUZA, , 2016FARIA;RICHTER, 2009;MACHADO, 2013;FONSECA, 2021) e juvenis (PAIS, 1990(PAIS, , 2005(PAIS, , 2011REGUILLO, 2003) e concebem sua liberdade junto com seus parceiros, constituindo relações de troca e não de poder.…”

“…No convívio, abrimos espaços para que o outro se mostre, para que possa dizer mais sobre si mesmo do que dizemos sobre ele, assim como abrimos espaços para nos mostrar, para dizermos sobre nós, criando dutos de ventilação que refrescam nossos imaginários rotuladores das vivências alheias, construindo relações mais próximas da realidade, do que é ser diferente de todos ao nosso redor. Ou, como Machado (2013) poetisa:…”

“…Ao compreendermos que ser criança e/ou jovem com deficiência visual são possíveis modos de existir, tão legítimos quanto todos os outros modos, abrimos brechas para que as infâncias e as juventudes também não sejam escamoteadas em nossas concepções que se voltam para o que as crianças e jovens serão quando forem adultas, mas considerem-nas a partir do que elas são no presente, como crianças e jovens, das culturas infantis (PRADO, 1999(PRADO, , 2021SOUZA, 2014SOUZA, , 2016FARIA;RICHTER, 2009;MACHADO, 2013;FONSECA, 2021) e juvenis (PAIS, 1990(PAIS, , 2005(PAIS, , 2011REGUILLO, 2003), que produzem, constroem e compartilham suas impressões, expressões, saberes, dúvidas e conhecimentos do mundo conosco.…”