“…Atualmente, porém, essa reinvenção -e sua possibilidade -parece ter ganhado outros contornos, trazendo outros desafios. Se a aceitação do contato esteve, historicamente, ligada ao aumento da exploração extrativista em seu território, que levou a uma aceleração das guerras e à construção da Transamazônica, que os cercou de não indígenas, seja pela obra em si, seja pela política de colonização da Amazônia levada a cabo pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), loteando terras próximas de suas áreas de movimentação para os chamados"colonos"(Fisher 1991(Fisher , 2000Tseouliko 2018a), no século XXI a construção da UHE Belo Monte foi, gradativamente, uma quebra desse "contrato" inicial.Com um processo de licenciamento ambiental crivado de problemas, em que o prometido era constantemente descumprido(Oliveira & Cohn 2014;Mantovanelli 2016aMantovanelli , 2016b, e, agora, com a iminência da construção da mineração a céu aberto Belo Sun, cujas áreas de prospecção invadem a Terra Indígena, os Xikrin passam a viver a "era dos impactos"(Mantovanelli 2016a). É a partir deste momento, que teve seu início em 2009, com a realização dos Estudos de Impacto Ambiental -em que os Xikrin do Bacajá tiveram, pela primeira vez, e por clara omissão do Estado, a notícia dos impactos advindos do novo projeto de aproveitamento hídrico da obra (Cohn 2010b) -, que os Xikrin do Bacajá tentaram empreender com mais afinco uma nova forma de negociação, a das reuniões -sem sucesso, e os levando a uma "crítica da política dos brancos", pela qual a palavra não vale, os documentos não têm validade e as reuniões são vazias de efeito (Mantovanelli 2016a).…”