Nas últimas décadas, os povos indígenas vêm articulando processos que fortalecem e/ou revivem rituais, cosmologias, estéticas e uma diversidade de saberes enquanto estratégia política de resistência. Um fenômeno ligado às formas de afirmação da identidade e manutenção de direitos territoriais, e que tem sido uma lente de análise antropológica da realidade indígena. Diante disso, o artigo foca num conjunto de experiências estéticas e saberes cosmológicos agenciados durante a Festa da Menina-Moça, um importante processo ritual e evento cosmopolítico do povo Tenetehar-Tembé, localizado no nordeste do Pará, Brasil. O objetivo deste estudo é compreender as relações entre a fabricação social do corpo Tembé e o papel e a “força” (agência) das mulheres a partir da produção e do uso estético na festa, traduzindo importantes aspectos da territorialidade, da cosmopolítica e da alteridade desse povo Tupi-Guarani da Amazônia oriental. A partir de revisões da literatura antropológica e de uma teorização etnográfica, embasada em minhas experiências de campo nas aldeias do Guamá e na observação participante da festa em meados de 2018, observam-se aqui os percursos (fases) da Festa da Menina-Moça e a eficácia das estéticas Tembé na fabricação dos corpos-territórios dessas moças e rapazes em liminaridade — e sua transformação relacional em “gente verdadeira”. Neste artigo, propõe-se uma leitura original da realidade Tembé e de seus processos a partir das expressões estéticas agenciadas na festa, as quais são um eixo revelador das dinâmicas socioculturais e das relações cosmopolíticas de diferentes grupos indígenas. Conclui-se que as formas de organização social e as práticas políticas do povo Tenetehar-Tembé são fortemente atravessadas por desdobramentos da festa. Aqui, saberes cosmológicos e estéticas potenciais constroem “gente verdadeira” ao mesmo tempo que (re)produzem socialidades e memória ritual, sendo mobilizadas e atualizadas em outros contextos da vida Tembé, sobretudo nas lutas políticas pelo seu território.