Entrevista com Axel Kroeger and Francoise Barbira-Freedman
Para que serve a antropologia (em tempos de Covid-19)?A história da antropologia feita no Brasil tem sido caracterizada por um compromisso político e social com as populações e coletivos com os quais antropólogas e antropólogos têm se relacionado. Esse compromisso atravessa e constitui relações de compreensão sobre o mundo, participação em lutas e disputas, a tentativa de entender a distribuição diferencial do sofrimento e dos privilégios que organizam as possibilidades de enunciação e seus efeitos no tecido social. Não tão pacificada, esse aspecto fundador do modo como desenvolvemos nosso ofício vez ou outra retorna a partir de problematizações em torno de uma antropologia aplicada versus uma antropologia engajada, ou mesmo dos limites entre fazer etnográfico e militância. Em suma, parte-se de uma possibilidade de separação (quiçá radical) entre política e epistemologia, ou entre modos de conhecer e a extensão social dos modos de conhecer que em última instância, tem se revelado cada vez mais emaranhada e entranhada.De uma maneira distinta das tradições de conhecimento que colonizaram nossa disciplina, a exemplo daquelas de origem estadunidense e francesa, a antropologia feita no Brasil tem se caracterizado, em grande medida, pelo modo como a diferença opera aproximações e distanciamentos, conforme argumenta Mariza Peirano (1999). Na perspectiva da autora, é possível destacar quatro categorias de relação -"alteridade radical", "contato com a alteridade", "alteridade próxima" e "alteridade mínima" -que permitiram a conformação de um conhecimento em que a experiência e o instrumental etnográfico partem das experiências espacialmente localizadas nos limites do território nacional e relacionalmente pela partilha de certos atributos. A produção das relações em campo e nosso engajamento como pesquisadoras ou pesquisadores partem assim de uma relação de partilha do tempo e espaço, que instauram a coetaneidade (FABIAN, 1983), ou seja, o reconhecimento de que dividir um mesmo tempo e espaço é condição fundamental de nossos projetos de conhecimento.A proximidade colocada por nossa relação com os interlocutores e interlocutoras de pesquisa, no contexto de uma disciplina ainda marcada por traços elitistas e que busca com dificuldade desatar-se dos nós do colonialismo retoma algumas questões centrais: quem faz a antropologia? Para que ela serve? Como a sociedade pode valer-se do conhecimento antropológico? Se considerarmos o ambiente político estabelecido nas últimas duas décadas, as questões ganham ainda mais relevância. Como pensar o contraste entre expansão do ensino superior, da pós-graduação e da ciência e tecnologia com o movimento de deslegitimação do fazer científico e do conhecimento produzido por especialistas, assim EDITORIAL | 2
Professora emérita do Departamento de Antropologia Social da University of St. Andrews e diretora fundadora do Centre for Pacific Studies, Christina Toren tem atuado de modo determinante no traçado dos novos rumos da antropologia contemporânea. Suas contribuições aos estudos de Fiji/Pacífico, socialidade, parentesco e noções de pessoa, ontogenia como processo histórico, e epistemologia, são notáveis, e nortearam profundas reformulações teóricas em todo o mundo. Nos encontramos para esta entrevista em sua casa em Dundee, na Escócia, no período em que ela supervisionava uma pesquisa que desenvolvemos na University of St. Andrews.
Esta introdução apresenta os seis artigos reunidos no dossiê e destaca temas que foram proeminentes na oficina Perspectivas Feministas na Amazônia Indígena, realizada em junho de 2021. O que antropólogas e mulheres indígenas na Amazônia precisam da epistemologia feminista hoje? Como experientes e emergentes pesquisadoras estão reconciliando perspectivas centradas na alteridade dos sistemas de parentesco e cosmologias indígenas amazônicas, que têm sido extraordinariamente produtivos e criativos para os amazonistas e para a antropologia mais ampla, nesta era em que a violência colonial e pós-colonial estão na vanguarda das agendas políticas e experiências cotidianas de muitas mulheres indígenas? As mulheres estão enfrentando empresas petrolíferas, se organizando em resposta a novas formas de misoginia e exclusões (da riqueza do Estado, educação, tomadas formais de decisão) e se valendo das novas oportunidades conferidas pela mobilidade, pela reconfiguração das funções masculinas e pelo ensino superior. Esta introdução apresenta algumas das maneiras pelas quais antropólogas e mulheres indígenas estão descobrindo o que pode ser uma perspectiva feminista na Amazônia indígena.
Professor Emeritus of the Department of Social Anthropology at University of St. Andrews and founding director of the Center for Pacific Studies, Christina Toren has been instrumental in charting the new directions of contemporary anthropology. Her contributions to the study of Fiji and the Pacific, sociality, kinship and ideas of the person, ontogeny as historical process, and epistemology, are remarkable, and have guided profound theoretical reformulations worldwide. We met for this interview at her home in Dundee, Scotland, during the period she supervised a research study that we developed at the University of St. Andrews.
Tradução do capítulo 5 do livro “La Lucha por la salud indígena en el Alto Amazonas y en los andes (1992)”, que foi ampliada pelos autores e apresenta notas inéditas
A PROA está fazendo aniversário! Com o primeiro número publicado em 2009, a revista chega ao volume 9.1 e sentimos um imenso prazer em dividir com os leitores deste periódico o resultado de uma década de trabalho. Assim como muitos outros rituais de passagem, o aniversário de 10 anos da PROA exprime a confluência de diversas trajetórias intelectuais e, inevitavelmente, nos faz pensar no difícil percurso das revistas acadêmicas organizadas por estudantes de pós graduação de universidades públicas brasileiras. No momento em que cortes de recursos destinados ao ensino superior convivem, paradoxalmente, com um aumento acima da média da produção científica nas ciências humanas e sociais, nos parece de extrema importância refletir sobre o papel dos pesquisadores e das universidades neste tipo de trabalho.
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