IntroduçãoO objetivo principal do presente texto consiste na apresentação de alguns resultados do exame das relações entre titulação universitária, ocupação profissional e posição social, particularmente no que tange a categorias socialmente dominantes no Brasil das últimas décadas. Utilizando como fonte de dados empíricos os microdados dos censos de 1970 a 2000, são confrontados os títulos universitários com os destinos ocupacionais e com o rendimento do trabalho principal. Conforme a hipótese geral perseguida, como os usos sociais dessa titulação universitária se inscrevem numa diversidade de mercados e de relações diferenciadas com a estrutura de poder, por um lado ocorre o crescimento da proporção daqueles que têm ocupação de "elite", ou de gestão e comando, que abrange quase todos os títulos universitários, por outro a forte polivalência nos usos da titulação universitária resulta também na grande quantidade dos que exercem alguma ocupação com rendimento inferior ao da categoria correspondente à respectiva titulação escolar.Para uma das principais elaborações conceituais que têm como objeto as relações entre o mercado escolar e o mercado de trabalho, de Bourdieu e Boltanski (1975), os descompassos entre esses mercados resultam da autonomia relativa do campo escolar ante o campo econômico e das consequentes diferenças de interesses e de temporalidades nas eventuais mudanças. Isso cria a possibilidade de diferenças entre as "propriedades pessoais, como o diploma", que são adquiridas "de uma só vez e acompanham o indivíduo durante toda a vida" e "as características do cargo, cuja mudança depende da economia" (idem, p. 98-103). Em contrapartida, além das estratégias e lutas individuais e coletivas pela valorização da titulação escolar ou dos cargos, existem possibilidades variadas de reconversão social e profissional. Nesses processos de reconversão, mais generalizados nas situações de inflação de títulos e crise de mercado, os setores e profissões de representação, que são mais indeterminadas, contariam com mais possibilidades (Bourdieu, 1978). No entanto, nas condições estudadas, a forte polivalência nos usos sociais e profissionais abrange quase todos os títulos Revista Brasileira de Educação v. 15 n. 43 jan./abr. 2010 45