O trabalho vivo de profissionais que lidam com a morte

Abstract

Este artigo apresenta resultados de pesquisa realizada no Núcleo de Medicina e Odontologia Legal (NUMOL) de Campina Grande (PB). Objetiva mostrar a atividade de trabalho, evidenciando os fatores de risco e as estratégias de defesa utilizadas para enfrentá-los e subvertê-los. Os pressupostos teóricos e metodológicos se basearam nas abordagens da Ergonomia Situada e da Psicodinâmica do Trabalho. Foram feitas 15 observações sistemáticas do trabalho e quatro entrevistas coletivas com as equipes do NUMOL. Identificaram-se os fatores de risco biossanitário, ergonômico, de acidentes e psicológico. Percebeu-se a mobilização dos trabalhadores diante das variabilidades, na cooperação no trabalho e na elaboração de estratégias de defesa. Concluiu-se que os trabalhadores são ativos, usam os saberes de prudência e elaboram estratégias de defesa para se proteger dos riscos e transformar o sofrimento.

Trabalho E Risco De Adoecimento Na Perspectiva Dos Agentes De Necropsia

“…A Tabela 2 apresenta as categorias identificadas para os danos relacionados ao trabalho na perspectiva dos sujeitos deste estudo. Quanto às categorias de dores no corpo e de cabeça, identificadas para a dimensão custo físico, os resultados encontrados no estudo desenvolvido por Silva et al (2015) reforçam os achados deste estudo. Os autores concluem que a função exercida pelo necrotomista pode ser causa de distúrbios musculoesqueléticos devido ao manuseio de diversos instrumentos e de cadáveres.…”

“…Em complemento, Silva e Ferreira et al (2016) avaliaram os danos à saúde relacionados ao trabalho de fisioterapeutas e constataram uma alta frequência de danos à saúde desses profissionais, com destaque para os DORT. Tendo em vista que esse grupo ocupacional precisa empreender um esforço fisiológico e biomecânico para a realização de suas atividades de trabalho (Mendes & Ferreira, 2007;Veras & Ferreira, 2006) muito parecido com os dos agentes de necropsia (Silva et al, 2015), esse estudo também confirma a categoria identificada.…”

“…Além disso, estão alocados a uma categoria ainda mais peculiar, haja vista que seu trabalho envolve lidar diariamente com o fenômeno da morte (Silva, Souza, & Araújo, 2014;Silva, Lopes, & Silva, 2015;Silva, Souza et al, 2016;Capaverde, Oliveira, & Scheffer, 2017;Messias, 2017;Paula, 2016), no caso, especificamente dos agentes de necropsia; muitas vezes combinada com violência. Explicita-se isso, pois, em seu dia a dia esses profissionais se deparam com vidas interrompidas de forma trágica, além de cadáveres em estado de putrefação, violações e mutilações (Paula, 2016;Silva, Souza et al, 2016).…”

“…Tal grupo é composto por pessoas que auxiliam na realização de necropsias médicolegais, contribuindo na investigação da causa mortis de um indivíduo. Incluem-se ainda, procedimentos menores que também são de responsabilidade desses agentes, tais como: identificação e manuseio do cadáver, coleta de amostras para exames, limpeza de instrumentos utilizados nos procedimentos de autópsias, recolhimento de ossadas e acompanhamento de exumações (Messias, 2017;Paula, 2016;Silva et al, 2014;Silva et al, 2015;Silva, Souza et al, 2016).…”

Diálogo visual sobre as implicações do trabalho com a morte e o corpo sem vida

“…Dentre os que lidam com a morte, há diversos profissionais, como o perito criminal, necromaquiador, coveiro, profissionais de saúde, profissionais do Instituto Médico Legal (IML), tanatopraxista, fotógrafo criminal, assistente de necrotério, professores de anatomia clínica e patológica, policiais (Araújo, 2012;Silva et al, 2015;Barros & Silva, 2004). Compreender o processo de morrer e a morte sob aspecto clínico e parâmetro biopsicossocial consiste em explorar, também, questões inerentes ao processo de trabalho dos profissionais que lidam com a morte, considerando a perspectiva cultural, social e implicações na saúde desses trabalhadores.…”