O testemunho e a produção de valor moral: observações etnográficas sobre um centro de recuperação evangélico

Abstract

André1 estava sentado na primeira fileira do pequenino templo do centro de recuperação. Visivelmente ansioso, entre aleluias e glórias a Deus, esfregava as mãos e balançava insistentemente as pernas enquanto acompanhava as primeiras oportunidades dadas no início do culto. Dias antes, comentara comigo que o pastor achava que ele já estava pronto para dar seu testemunho e que deveria fazê-lo o quanto antes. A ocasião havia chegado. André teria que contar àquela audiência -cerca de noventa homens -a sua história de pecados, de sofrimento e de transformação. Tudo ocorreu conforme o esperado: apesar da timidez, o rapaz narrou habilidosamente a saga que o levara até o centro de recuperação e a se engajar na construção de uma nova vida.No entanto, ao mesmo tempo que se sentia honrado, André também se sentia receoso. Para ele, por um lado, o convite do pastor significava o reconhecimento de sua recuperação: estaria se tornando um exemplo para os demais -seu testemunho estaria sendo requisitado principalmente por essa razão. Mas, por outro, receber essa honraria também representava a necessidade de assumir um compromisso moral (com o pastor, com os demais alunos do centro, com sua família e com Deus) que o deixava ansioso e inquieto. "Agora eu vou ter que ser mais vigilante do que era antes, porque o diabo vai me tentar mais também, vai jogar ainda mais setas em mim". Com isso, André parecia indicar que dar seu testemunho era algo que incrementava o compromisso com o ideal de transformação que, conforme o convite que lhe fora

A Ética Cotidiana Das Interrupções Em Trajetórias Religiosas Pentecostais

“…Nota-se que as proposições em torno da conversão como sendo "minimalista", fruto de um "subjetivismo" ou de uma "dialética entre contínuo e descontínuo", representam reflexões que buscam dar conta dos delicados e contraditórios processos de construção de si, efetuados pelos evangélicos no Brasil. Uma grande ênfase vem sendo dada, hoje em dia, por exemplo, a estudos de "desviantes" masculinos como usuários de drogas ilícitas e álcool (Mariz, 2003); presidiários e "ex-bandidos" (Côrtes, 2014;Machado, 2014;Teixeira, 2016); "traficantes evangélicos" (Vital da Cunha, 2008); homossexuais e transexuais evangélicos (Natividade & Oliveira, 2013;Quintela, 2020), entre outros outsiders. São estudos que privilegiam analisar a coexistência de dinâmicas de vida a princípio contraditórias no seio da ideologia pentecostal, destacando as lógicas agonísticas radicais típicas do ethos masculino, como a virilidade e a violência nas tramas morais da conversão.…”

A espiritualidade no atendimento de mulheres usuárias de substâncias

“…No contexto da moralidade religiosa empregada institucionalmente, espera-se que as acolhidas se convertam à doutrina professada pelas CTs. A conversão, observada como parte estruturante da composição de um novo ethos para os indivíduos no âmbito de CTs religiosas, foi analisada por Teixeira (2013Teixeira ( , 2016, que descreve esse fenômeno por meio de dois elementos distintos: a crença e o engajamento. Ou seja, um indivíduo considerado plenamente convertido por seus pares precisa estar envolvido nas práticas religiosas e expressar/sentir que acredita na eficácia de tais práticas.…”

An outline of a pragmatic sociology of ‘violence’

“…The idea of an achieved dystopia (Talone, 2015a) thus allows us to consider how social actors conceive the world by thinking of its worst possible version in order to move about in social life and how they define situations on this basis. Teixeira (2013; 2016), for his part, has worked with the circumscription of complex social worlds around the idea of a world of crime and how its central figures are conceived (Teixeira, 2015;Teixeira, 2016;. In his work, different native theories about how crime becomes embedded in the person define actual practical operative worlds, each one according to a specific logic.…”