Abstract:Resumo O artigo analisa como os brasileiros se posicionam em relação ao Programa Bolsa Família (PBF) e seus beneficiários. Os dados são de uma pesquisa nacional de opinião pública encomendada pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom-PR). Resultados de um modelo logístico multinomial sobre as chances de apoio ao PBF mostraram que elas crescem com a avaliação positiva do governo federal, o nível de informação sobre o programa e o contato com beneficiários, mas caem com o aumento d… Show more
“…A pesquisa "Medindo o grau de aversão à desigualdade da população brasileira" (Lavinas e Waltenberg, 2012), conduzida por pesquisadores da UFRJ, constata que 73% dos eleitores apoiam a manutenção do programa. No entanto, questões específicas sobre a política pública revelam aspectos importantes e mais controversos, como também ressaltam Mundim et al (2019). O survey de 2012 mostra que o apoio não ocorre sem reservas: 42% dos respondentes discordariam de um aumento do valor do benefício 11 .…”
Section: Pbf E O Resultado Eleitoral: Efeitos Diretos E Indiretosunclassified
Quais são os mecanismos que conectam políticas de transferência de renda e voto para presidente? As explicações usuais focam, de modo geral, o “efeito direto”, ou seja, o seu impacto apenas nos beneficiários do programa social. A partir da análise do Programa Bolsa Família, argumento que o “efeito indireto” na decisão de voto dos eleitores não beneficiários que conhecem beneficiários pode ser tão ou mais importante que o efeito direto para o resultado eleitoral. Apresento mecanismos plausíveis para essa hipótese e proponho um modelo empírico a partir de surveys de 2006 e 2010. Contrariando visões correntes sobre o impacto regional da política social, os resultados mostram a importância do efeito indireto positivo especialmente para o voto no PT na região Sudeste. Assim, chamo atenção para o fato de que contatos sociais são mecanismos importantes para conformar o efeito eleitoral de políticas públicas.
“…A pesquisa "Medindo o grau de aversão à desigualdade da população brasileira" (Lavinas e Waltenberg, 2012), conduzida por pesquisadores da UFRJ, constata que 73% dos eleitores apoiam a manutenção do programa. No entanto, questões específicas sobre a política pública revelam aspectos importantes e mais controversos, como também ressaltam Mundim et al (2019). O survey de 2012 mostra que o apoio não ocorre sem reservas: 42% dos respondentes discordariam de um aumento do valor do benefício 11 .…”
Section: Pbf E O Resultado Eleitoral: Efeitos Diretos E Indiretosunclassified
Quais são os mecanismos que conectam políticas de transferência de renda e voto para presidente? As explicações usuais focam, de modo geral, o “efeito direto”, ou seja, o seu impacto apenas nos beneficiários do programa social. A partir da análise do Programa Bolsa Família, argumento que o “efeito indireto” na decisão de voto dos eleitores não beneficiários que conhecem beneficiários pode ser tão ou mais importante que o efeito direto para o resultado eleitoral. Apresento mecanismos plausíveis para essa hipótese e proponho um modelo empírico a partir de surveys de 2006 e 2010. Contrariando visões correntes sobre o impacto regional da política social, os resultados mostram a importância do efeito indireto positivo especialmente para o voto no PT na região Sudeste. Assim, chamo atenção para o fato de que contatos sociais são mecanismos importantes para conformar o efeito eleitoral de políticas públicas.
“…18 Em todo o período aqui analisado, discursos no Parlamento, bem como matérias e editoriais em jornais, procuravam resumir a estratégia Fome Zero e BSM como se fossem constituídas de ações simplórias de assistencialismo inconsequente, com efeitos sociais indesejados, como se estivessem promovendo a inatividade, incentivando a natalidade ou induzindo o voto nas eleições, como o revelam os motes pejorativos "bolsa-preguiça", "bolsa-barriga" ou "bolsa-voto" (Leite, Fonseca e Holanda, 2019;Campello e Neri, 2013). Talvez não fosse surpresa que assim fossem tratadas, dado o histórico da grande imprensa na cobertura das políticas de cotas e outros temas de políticas sociais (Azevedo, 2009;Campos, Feres Júnior e Daflon, 2013;Haddad, 2017;Mundim et al, 2019). Na própria academia, as PDSCF não escapavam ao reducionismo de enxergá-las como se fossem resumidas ao PBF, uma delimitação funcional à interpretação da agenda social como "rendição" à agenda neoliberal -de encarar política pública como política para pobres -ou como um "apanágio assistencialista" ou "bolsa-esmola", que inviabilizaria a "revolução tão necessária e urgente".…”
Nas últimas décadas, as políticas públicas brasileiras tornaram-se conhecidas e reconhecidas no contexto internacional pelos impactos que geraram em diversas dimensões da realidade social no país. Diversas publicações nacionais e internacionais lançadas nos últimos anos destacaram os avanços do país com relação a mitigação da fome, redução da pobreza e desigualdade, universalização da educação básica, ampliação de acesso à água, à energia elétrica e aos bens de consumo, bem como inclusão universitária de estudantes negros e mobilidade social, entre os aspectos mais citados. 3 Nesses relatórios, em especial os produzidos pelas agências das Nações Unidas, o Brasil é citado como modelo referencial para países pobres e de renda média pela estruturação do conjunto de políticas públicas -universais, redistributivas e de reconhecimento sociocultural -desde meados dos anos 1990 e, sobretudo, nos anos 2000. Com as limitações e ambiguidades desse sistema de políticas, os resultados até então evidenciados pareciam promissores, considerando que a experiência brasileira havia percorrido apenas duas décadas, muito menos que os oitenta anos de estruturação do Estado de bem-estar em Alemanha, França e Suécia, ou que os quarenta anos em Portugal e Espanha (Castro e Pochmann, 2020).Os avanços sociais no Brasil seriam explicados, segundo vários analistas e instituições de pesquisa, pela centralidade da Estratégia Fome Zero (Aranha, 2010) e do Plano Brasil Sem Miséria (BSM) na agenda prioritária de governo, pelo volume crescente de recursos em um amplo leque de 1. O autor agradece as valiosas sugestões dos pareceristas a uma primeira versão deste capítulo, acolhidas no texto segundo a capacidade reflexiva do autor.
“…Isso é o que explica, para Hoggett, Wilkinson e Beedell (2013), que as próprias classes trabalhadoras cultivem e expressem a sensação de serem vítimas de injustiça em relação às pessoas que recebem "tratamento especial" dos governos e são assistidas por programas sociais. Daí a rejeição tão propagada contra programas de distribuição de renda como o Bolsa Família (Mundim, 2019), ou mesmo contra políticas de ações afirmativas, como as cotas para acesso às universidades públicas (Rennó, 2020).…”
Section: Tensões Morais Da Política Ressentidaunclassified
O artigo busca reivindicar a relevância dos afetos políticos para a compreensão do bolsonarismo, tomado como fenômeno populista de extrema direita. Parte-se da premissa de que o governo de Jair Bolsonaro institui uma política do ressentimento fortemente articulada a uma guerra cultural. Nesse sentido, investiga-se alguns traços fundamentais do populismo, define-se a ideia de política do ressentimento e discute-se algumas das tensões morais e condições de emergência da política ressentida praticada por Bolsonaro. Por fim, observa-se a práxis discursiva dessa atuação no perfil do presidente da República no Twitter, uma das principais plataformas de visibilidade do chefe do Executivo.
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