No início de A democracia na América, Tocqueville afirma que, como os indivíduos, "os povos sempre se ressentem de sua origem. As circunstâncias que acompanharam seu nascimento e serviram para seu desenvolvimento influem sobre todo o resto de sua carreira" (Tocqueville, 2001, p. 36). Essa importância conferida à formação social e política dos povos não implica, porém, afirmar a inexistência de discordâncias a respeito do projeto nacional que as nortearia. Pelo contrário. Para ficarmos apenas na nação de que Tocqueville se ocupava, a tensão entre os federalistas (unionistas) e antifederalistas (estadualistas) marcou o surgimento dos Estados Unidos como país independente e boa parte de sua vida posterior, expressa pelo sistema bipartidário e pelos antagonismos ideológicos que atravessaram a história daquela república: comércio/indústria versus ruralismo; mão de obra livre versus escravidão; aristocratismo versus democratismo; imperialismo versus isolacionismo. Essa dualidade se espelha também na existência de versões historiográficas distintas do passado nacional, já que cada partido elabora sua própria narrativa de modo a enaltecer seus próprios heróis e justificar, por meio do recurso ao passado, a sua atitude presente. Dessa polarização surgem panteões nacionais concorrentes, nos quais muitas vezes os heróis de um são os anti-heróis do outro. No entanto, a sedimentação de uma cultura