O artigo procura responder, a partir de pesquisas etnográficas realizadas em Codó, no interior do Maranhão, como entidades religiosas se relacionam com a cidade. Para alcançar esse objetivo, inicialmente se contextualiza o campo dos estudos de religião de matriz africana no estado, considerando especialmente o terecô, religião trabalhada no texto. Na sequência, são trazidos aspectos da cosmologia e do ritual que chamam a atenção para a relação entre o terecô, os encantados da família de Légua Boji Buá, Codó e suas matas. Assim se elabora a ideia de uma terra de encantaria. Para fazer a passagem à parte final do texto, lança-se mão da categoria êmica “morada” para explorar a constituição dos terrenos, da terra e das casas, a partir de práticas de pessoas e de entidades. Sugerem-se dobras, dimensões e camadas, que são mobilizadas por quem olha, a partir da religião, a cidade. Desdobrando o argumento, conclui-se que pensar, cartográfica e administrativamente, o local não é suficiente: para pensar a cidade e o terecô, é preciso entender que Codó é um lugar de pensamento.