Este artigo aborda o trabalho das mulheres na constituição de corpos/paisagens no Pacífico Negro Colombo-equatoriano. Para tal, versa sobre a centralidade das águas nas vivências e elaborações da territorialidade; sobre a comida como um lugar de encontros e agenciamentos; sobre a mariscagem como uma relação estabelecida pelas mulheres entre elas, as águas e diversos seres hidrobiológicos; sobre as agencialidades que habitam os rios em formas de encantados, pedras e ouro. Adota-se como base epistemológica as narrativas construídas na experiência etnográfica junto às mulheres afro-pacíficas, que em sua maioria são matronas, autoridades familiares e comunitárias que constroem redes de irmandade política e afetiva, conectando o doméstico e o público. Tal concepção sustenta-se na compreensão de que a experiência vivida é fonte de produção de conhecimento e que a produção de conhecimento entre povos afro-diaspóricos traz uma perspectiva coletiva, tendo por vezes a oralidade como plataforma de existência.
Este artigo propõe pensar a alimentação desde a perspectiva étnico-racial e de gênero a partir das relações campo-cidade no contexto contemporâneo de crise instaurada pela ação do novo Coronavírus (SARS-CoV-2). Para tal, apresenta um diálogo entre Ciências Sociais e Agrárias, com foco na Antropologia da Alimentação e na Agroecologia. Interessa refletir sobre a alimentação biodiversa como fator de promoção de saúde em um momento de adoecimento coletivo e ameaça às vidas humanas, bem como pensar sobre o acesso diferenciado a ela tendo em vista crivos como pertencimento étnico-racial e relações de gênero. A partir de experiências de produção e consumo de alimentos agroecológicos, os sentidos atribuídos ao ato de comer são analisados de forma paralela aos sentidos atribuídos ao ato de produzir e transformar matérias-primas em alimentos. Enfim, é lançada luz sobre experiências diversas que sinalizam possibilidades de transformação dos significados da alimentação e dos circuitos alimentares campo-cidade.
O artigo problematiza o lugar da mestiçagem no sistema de classificação étnico-racial do Pacífico colombo-equatoriano. Tais reflexões foram-me suscitadas no encontro etnográfico com mulheres negras/afrodescendentes habitantes e/ou oriundas das ribeiras de rios no Pacífico Colombo-equatoriano. Por ora apresento uma abordagem bibliográfica, em um passeio pela história de ambos os países, remontando ao período colonial, à formação dos Estados-nação na era republicana, chegando à multi e interculturalidade, quando analiso a produção antropológica sobre a temática. Como pano de fundo, há uma reflexão sobre a “raça” e a “etnia” como categorias acionadas para demarcar diferenças entre grupos sociais. Por fim, abordo a afrodescendência como identidade política.
Neste artigo, proponho abordar a territorialidade afro-pacífica a partir da ideia do território-água – uma territorialidade fluida. São as Matronas que dão sentido a tal concepção e vivência territorial. Essas mulheres constroem entre elas redes de irmandade política e afetiva, conectando o ambiente doméstico com o domínio político. A partir de suas posições de parteiras, curandeiras, rezadeiras, cantadoras e/ou conselheiras, tornam-se lideranças em organizações afro/negras, em organizações de mulheres e de mulheres negras. As Matronas são peça-chave na resistência do povo afro-pacífico em um cenário de violência sociopolítica. Elas resistem à ação bélica organizada insistindo em manter os circuitos de reciprocidade que sustentam a solidariedade intraétnica.
Em tempos de desqualificação da reivindicação de direitos por comunidades quilombolas no Brasil e na América Latina, uma obra que ressalta a dimensão criativa da memória é meritória. Em diversos pontos da diáspora africana, comunidades negras lutam pela garantia de territórios ancestrais. Nesses enfrentamentos, as estratégias contrárias vão desde ameaças e ações de violência explícita direcionadas aos quilombolas a construções retóricas que desvalorizam a dimensão oral, plataforma primordial de registro da trajetória de tais comunidades, ao questionar os procedimentos jurídicolegais para a identificação, o reconhecimento e a regularização dos territórios de remanescentes das comunidades de quilombos.
Este dossiê trata de sistemas alimentares e culinários, conhecimentos, processos de produção e técnicas associados às práticas alimentares. Tais sistemas são, em alguns casos, reconhecidos como Patrimônios Culturais, a partir da assinatura da Convenção para Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO. No entanto, existem descompassos entre o que está escrito e o que acontece na realidade, durante os processos de pesquisa, as ações de salvaguarda e no que diz respeito aos benefícios para os detentores desses saberes e práticas, quando estes existem. Os artigos aqui presentes trazem um olhar enraizado, com ênfase sobre os territórios nos quais os sistemas alimentares são constituídos, e propõem uma abordagem política, ao compreender que a institucionalização do patrimônio é um processo pensado por diversas elites que adaptaram as diretrizes da Convenção da UNESCO aos diferentes contextos nacionais. Um outro eixo do dossiê traz uma reflexão sobre o diálogo entre tradição e modernidade na dimensão mercantil da alimentação associada aos processos produtivos e a outros aspectos conexos como as relações entre o urbano e o rural, o turismo, a migração ou questões identitárias ligadas à produção e ao consumo de alimentos. O dossiê, composto por dez artigos, apresenta reflexões em contextos etnográficos diversificados, na América (Brasil, México), no continente africano (Marrocos), na Ásia (Malásia) e na Europa (França, Portugal); foi pensado como um contributo para renovar a discussão sobre processos e práticas alimentares, contemplando inevitavelmente as tensões que atravessam as sociedades contemporâneas.A patrimonialização de alimentos e de práticas culinárias pode obliterar as histórias e os contextos dos alimentos e dos consumos a eles associados. Muitas vezes, as ações de patrimonialização não são acompanhadas por uma análise dos contextos sociais e históricos em que foram criados e tradicionalmente consumidos. É o que ocorre quando, por exemplo, há um deslocamento de contextos de produção e consumo do alimento do universo tradicional para a esfera turística. Quais as mudanças socioculturais e econômicas que acompanham esse deslocamento? A análise da sopa de favas, no Marrocos, traz reflexões sobre tais questões.A cozinha, enquanto patrimônio cultural, é um campo simbólico de poder. Nos processos de patrimonialização, as cozinhas tradicionais po-
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