Abstract:As comunidades de terreiro são espaços que agregam valores e formas próprias de produção e transmissão de conhecimento, relações pessoais e políticas, maneiras de ver, sentir e compreender o mundo, organização social e relações de gênero, como maneiras de religar os contextos comunitários e identitários que foram esfacelados pela colonização e pela escravização. A sociedade brasileira, por sua vez, foi forjada através da colonização portuguesa e da imposição dos valores morais, científicos, normativos europeus… Show more
“…O espaço físico do terreiro também possui, em sua lateral, um terreno espaçoso, onde se realizam recepções e atividades religiosas ligadas aos exus, inclusive existem dois cômodos dedicados a estas entidades no local. O vulto de Mãe Amelinha, junto aos retratos das mães de santo do terreiro, demarca um forte território da memória desse espaço, constituindo uma reivindicação identitária em que se constitui uma relação dual entre a simbologia do matriarcado da casa e da essência de divindade dessa mãe de santo que, segundo relatos, incorpora em alguns fi lhos da casa, sendo reconhecida como uma entidade de luz nominada de Mestrinha (OLIVEIRA, 1992). Aspecto semelhante visualizamos no terreiro de Zélio de Moraes 24 , onde ele e membros de sua família incorporam nos médiuns como guias espirituais, o que ressalta a existência de uma ressonância com a doutrina Kardecista.…”
Section: O Terreiro Dois Irmãos Como Um Espaço Musealunclassified
“…Segundo Taissa Tavernard de Luca (2010) O movimento evidenciou a existência de um terreiro centenário, o Terreiro de Mina Dois Irmãos, que era o antigo Terreiro de Santa Bárbara, aberto pela maranhense Mãe Josina, assim como apresentado por Oliveira (1992).…”
unclassified
“…Aqui buscamos entender que no cerne do processo museal encontra-se a sociabilidade e a vitalidade das culturas afrodiaspóricas que se Melo (2020a) considera "fratrimônio" como uma perspectiva em que as relações sociais em questão podem ser pensadas por aspectos inter e intrapessoais, que podem se confi gurar em distintas lógicas, como a de um pensar afrodiaspórico, confi gurado para além de objetos ou bens físicos, pois o termo quebra a estrutura de gênero e faz com que a condicionante fraternal exalte afetividade, presente em aspectos como o "bem viver" 12 e o "ubuntu" 13 e diversas outras formas de estar, de pensar e de se relacionar com o mundo. No entanto, evidencia que nem todas as relações fraternas são amistosas ou pacífi cas, pois as disputas existem e sempre existirão, como as famosas disputas entre irmãos e até os fratricídios 14 , assim como ocorre com o "patrimônio", não sendo imune aos confl itos.O Terreiro de Mina Dois Irmãos e sua patrimonializaçãoO Terreiro de Mina Dois Irmãos, foi historicizado no livro de Edilson Menezes deOliveira (1992), membro da comunidade, que descreveu três das suas gerações, sendo a primeira liderança Mãe Josina de Verequete, posteriormente Mãe Amelinha de Don José Floriano e a terceira de Mãe Lulu de Verequete. todos como a "Mestrinha".…”
unclassified
“…todos como a "Mestrinha". (OLIVEIRA, 1992, p. 6) Este aspecto vai ao encontro com algumas representações simbólicas pautadas na questão de ancestralidade e suas representações no espaço do terreiro, sendo ela remissiva às questões de origem, mais distantes temporalmente, como no caso dos orixás e voduns, ou mais próximas, como o caso de Mãe Josina.Ainda sobre a gestão de Mãe Josina, temos relatos descritos porOliveira (1992) como "anormais e curiosos". Dentre estes, destacamos o ocorrido durante um festejo, no qual o rufar dos atabaques teria chamado atenção da polícia:[...] depois de algumas horas de rituais, surgiu em frente ao terreiro, uma patrulha montada típica da época, composta de um agente de polícia civil e três milicianos, apearam seus cavalos e tentaram invadir o terreiro para prender seu responsável ou responsáveis e acabar com o ritual, ocorreu que, ao chegarem à porta de entrada do terreiro foram interpelados pelo porteiro.…”
O artigo se propõe a discutir o Terreiro Dois Irmãos como um espaço museal da cidade de Belém. Compondo um exercício epistêmico que busca compreender os terreiros como agentes ativos da restituição das culturas afrodiaspóricas, preservando suas memórias e cunhando identidades. Para isso apresenta uma discussão sobre processos de patrimonialização e musealização de terreiros, elucidando que essa compreensão vai para além destes processos. Defendendo que o cerne desse processo museal encontra-se na sociabilidade e vitalidade culturais, que se estabelecem por seus processos de existência, resistência e vigência. Aspecto em que destaca a conceituação de fratrimônio, que conduz conceitualmente a descrição do espaço físico do Terreiro Dois Irmãos e suas relações simbólicas.
“…O espaço físico do terreiro também possui, em sua lateral, um terreno espaçoso, onde se realizam recepções e atividades religiosas ligadas aos exus, inclusive existem dois cômodos dedicados a estas entidades no local. O vulto de Mãe Amelinha, junto aos retratos das mães de santo do terreiro, demarca um forte território da memória desse espaço, constituindo uma reivindicação identitária em que se constitui uma relação dual entre a simbologia do matriarcado da casa e da essência de divindade dessa mãe de santo que, segundo relatos, incorpora em alguns fi lhos da casa, sendo reconhecida como uma entidade de luz nominada de Mestrinha (OLIVEIRA, 1992). Aspecto semelhante visualizamos no terreiro de Zélio de Moraes 24 , onde ele e membros de sua família incorporam nos médiuns como guias espirituais, o que ressalta a existência de uma ressonância com a doutrina Kardecista.…”
Section: O Terreiro Dois Irmãos Como Um Espaço Musealunclassified
“…Segundo Taissa Tavernard de Luca (2010) O movimento evidenciou a existência de um terreiro centenário, o Terreiro de Mina Dois Irmãos, que era o antigo Terreiro de Santa Bárbara, aberto pela maranhense Mãe Josina, assim como apresentado por Oliveira (1992).…”
unclassified
“…Aqui buscamos entender que no cerne do processo museal encontra-se a sociabilidade e a vitalidade das culturas afrodiaspóricas que se Melo (2020a) considera "fratrimônio" como uma perspectiva em que as relações sociais em questão podem ser pensadas por aspectos inter e intrapessoais, que podem se confi gurar em distintas lógicas, como a de um pensar afrodiaspórico, confi gurado para além de objetos ou bens físicos, pois o termo quebra a estrutura de gênero e faz com que a condicionante fraternal exalte afetividade, presente em aspectos como o "bem viver" 12 e o "ubuntu" 13 e diversas outras formas de estar, de pensar e de se relacionar com o mundo. No entanto, evidencia que nem todas as relações fraternas são amistosas ou pacífi cas, pois as disputas existem e sempre existirão, como as famosas disputas entre irmãos e até os fratricídios 14 , assim como ocorre com o "patrimônio", não sendo imune aos confl itos.O Terreiro de Mina Dois Irmãos e sua patrimonializaçãoO Terreiro de Mina Dois Irmãos, foi historicizado no livro de Edilson Menezes deOliveira (1992), membro da comunidade, que descreveu três das suas gerações, sendo a primeira liderança Mãe Josina de Verequete, posteriormente Mãe Amelinha de Don José Floriano e a terceira de Mãe Lulu de Verequete. todos como a "Mestrinha".…”
unclassified
“…todos como a "Mestrinha". (OLIVEIRA, 1992, p. 6) Este aspecto vai ao encontro com algumas representações simbólicas pautadas na questão de ancestralidade e suas representações no espaço do terreiro, sendo ela remissiva às questões de origem, mais distantes temporalmente, como no caso dos orixás e voduns, ou mais próximas, como o caso de Mãe Josina.Ainda sobre a gestão de Mãe Josina, temos relatos descritos porOliveira (1992) como "anormais e curiosos". Dentre estes, destacamos o ocorrido durante um festejo, no qual o rufar dos atabaques teria chamado atenção da polícia:[...] depois de algumas horas de rituais, surgiu em frente ao terreiro, uma patrulha montada típica da época, composta de um agente de polícia civil e três milicianos, apearam seus cavalos e tentaram invadir o terreiro para prender seu responsável ou responsáveis e acabar com o ritual, ocorreu que, ao chegarem à porta de entrada do terreiro foram interpelados pelo porteiro.…”
O artigo se propõe a discutir o Terreiro Dois Irmãos como um espaço museal da cidade de Belém. Compondo um exercício epistêmico que busca compreender os terreiros como agentes ativos da restituição das culturas afrodiaspóricas, preservando suas memórias e cunhando identidades. Para isso apresenta uma discussão sobre processos de patrimonialização e musealização de terreiros, elucidando que essa compreensão vai para além destes processos. Defendendo que o cerne desse processo museal encontra-se na sociabilidade e vitalidade culturais, que se estabelecem por seus processos de existência, resistência e vigência. Aspecto em que destaca a conceituação de fratrimônio, que conduz conceitualmente a descrição do espaço físico do Terreiro Dois Irmãos e suas relações simbólicas.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.