Este artigo promove uma análise comparada entre o conto "O caso da vara" e o romance Quincas Borba, de Machado de Assis, observando de que modo a sátira e o humor inserem-se no projeto estético machadiano no que diz respeito à configuração de um "realismo de avaliação". Nos dois textos, narrador e focalização projetam uma dimensão crítica por meio das formas do cômico mencionadas, permitindo visualizar a composição do "intervalo social menor" que, segundo Alfredo Bosi, caracteriza o Realismo brasileiro sob Machado de Assis.pAlAvrAs-chAve: sátira, humor, realismo.Tão certo é que a paisagem depende do ponto de vista, e que o melhor modo de apreciar o chicote é ter-lhe o cabo na mão.Machado de Assis iNtRodução O recorte que se propõe para este artigo pode ser visto como um desdobramento de um ponto de vista crítico que já se configura como verdadeiro truísmo: o fato de que a ficção machadiana configura-se como uma realização ímpar no contexto da literatura realista brasileira, quiçá universal, a se concordar com a opinião de Antonio Candido.sAntini, Juliana; rochA, Rejane C. sátirA e humor em mAchAdo de Assis...No quadro social desenhado no romance, o ministro manipula o deputado, que domina o banqueiro e, submisso a seu superior, alivia-se da humilhação na sala do capitalista, que abandona Rubião em um hospício depois de tirar proveito de sua herança, esta, por sua vez, motivo do brilho nos olhos de muitas moças solteiras. O caráter satírico, rebaixador, derrisório da onisciência no conto transforma-se, no romance, em observação melancólica do caráter humano. Tanto em um como em outro caso põem-se em evidência as figuras, para que delas projete-se o quadro. No conjunto, por fim, indivíduo e sociedade delineiam-se aos olhos de um leitor que fecha o livro, mas não se pode livrar da voz do narrador que ecoa: chora os mortos, ou ri-te deles.