Partindo de uma reflexão a respeito da relação entre a literatura e as tecnologias que lhe servem de suporte, o objetivo deste artigo é discutir os principais pressupostos e conceitos a respeito da literatura produzida em contexto digital, fazendo uma recensão da crítica produzida sobre o assunto.
IntroduçãoOs dois versos que propomos como epígrafes para esta refl exão funcionam como uma espécie de elo a atar os dois momentos histórico-literários -e, por conseguinte, as duas obras, objetos deste estudo, -sobre os quais lançaremos o nosso olhar. Em outra ocasião 3 , discutimos de que forma o termo "fascinação" poderia ser eleito para melhor descrever a relação entre o artista, desde o início da modernidade, e a cidade. O misto de atração e repulsa que está implícito no signifi cado do vocábulo, emerge desses versos de Baudelaire, que olha para a cidade de fi nais do século XIX com o olhar crítico daquele que a sabe como o repositório de todas as tensões de que a modernidade -e as novas relações de trabalho, de consumo e de produção que a caracterizam desde o seu surgimento -é agregadora e, ao mesmo tempo, a sabe, também, como fonte inesgotável de material poético.Questionar, assim, a representação da cidade moderna pela literatura contemporânea é, a par de observar de que forma o espaço urbano de hoje fornece temas e motiva formas para a literatura de hoje, compreender que há uma tradição construída desde o século XIX, quando da emergência dos primeiros centros urbanos, no que diz respeito a essa representação 1 Docente do Programa de Pós-Graduação em Estudos de Literatura e do Departamento de Letras da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), São Carlos, Brasil. Membro do grupo de pesquisa "Realismo e realidade na fi cção brasileira contemporânea" (Cnpq/UFSCar). E-mail: rejane@ufscar.br 2 "De cada coisa, pois, extraí-lhe a quintessência/ Me deste a lama e transformei em ouro." 3 Trata-se do artigo "Arquitetura dos contrastes: uma leitura de Eles eram muitos cavalos" (Rocha, 2009).
Resumo Este artigo procura pensar a circulação da literatura a partir das mais recentes tecnologias de inscrição, apresentando o estudo de caso de dois autores que se tornaram fenômenos de popularidade nas redes sociais. Por um lado, sugerimos que as obras literárias de Clarice Lispector e de Caio Fernando Abreu compartilham uma série de particularidades que tornam os seus textos especialmente atraentes para o universo on-line. Por outro, entendemos que é importante também investigar como o meio digital atua sobre essas obras, que vão sendo editadas, publicadas, reproduzidas, compartilhadas, remixadas, gerenciadas (Manovich, 2011, 2017), de modo a se tornarem um dispositivo de mídia num sistema que sobrevive da convergência dos meios, da construção coletiva e da cultura participativa (Jenkins, 2008).
Melancolia in progress: uma leitura de Os famosos e os duendes da morteRejane C. Rocha. 1 "A gente é uma geração que tá (sic) criando máquinas afetivas" A história do textoEm 2010, Ismael Canappele, um jovem escritor que tinha na bagagem um romance publicado por uma editora independente, publica pela Editora Iluminuras Os famosos e os duendes da morte, romance de título homônimo ao do filme dirigido por Esmir Filho e lançado no circuito comercial no mesmo ano 2 . Na capa, a reprodução de uma cena do filme -no qual o próprio Caneppele atua -à primeira vista remete ao estratagema editorial de evocar, para o pretendido leitor, sucessos cinematográficos adaptadosbaseados, inspirados -de obras literárias, a fim de que ele, o leitor, percorra o caminho inverso e, enfim, chegue ao texto, à obra original/originária. Essa primeira leitura foi logo desfeita pelo escritor e pelo diretor que, em entrevistas 3 , têm contado a história do livro e do filme de outra maneira, o que revela um percurso menos comum no que tange às relações entre texto literário e cinema.
Pode-se iniciar com uma provocação:Teremos de voltar ao jardim de infância. Teremos de retornar àquele nível em que ainda não tínhamos aprendido a ler e a escrever. Nesse jardim de infância, aprenderemos com computadores, plotadoras e jogos infantis semelhantes a gadgets. Teremos de utilizar os aparelhos complexos e sofisticados, fruto de um desenvolvimento espiritual de milhares de anos, com propósitos infantis. Não nos denominaremos de idiotas atrasados quando ficarmos brincando de maneira tão desastrada, mas de artistas inovadores da computação gráfica. E, servindo-nos do alfabeto, escreveremos comentários eruditos e patéticos acerca de nossas brincadeiras, a fim de gabarmo-nos diante de nós mesmos e de todos aqueles que continuam a escrever e a pensar pautados no método antigo. O que faremos, quando sentarmos diante de nossos minitels, apples e commodores, será de tal forma primitivo que nem mesmo com simpósios, oficinas e seminários conseguiremos ludibriar alguém acerca disso (Flusser, 2010, p. 172).A citação foi extraída do último capítulo, de contornos conclusivos, do livro de Vilém Flusser A escrita: há futuro para a escrita? e, se assume contornos provocativos aqui, na apresentação de um dossiê dedicado ao tema "Literatura e novas mídias", não tem esse significado no seu contexto original, muito embora se possa identificar um acento bastante irônico no que era, no momento de concepção do texto, uma aposta profética. 2 Era, porque embora algo catastrófica, o que a citação prevê é o imenso abismo a separar, na atualidade, os nativos digitais dos migrantes digitais, nós, 3 de volta ao jardim de infância brincando com 1 Doutora em estudos literários e professora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), São Carlos, SP, Brasil. E-mail: rjncris@gmail.com 2 O livro foi publicado na Alemanha, pela primeira vez, em 1987. Em 1989 ganhou uma segunda edição, revisada pelo autor. Foi traduzida no Brasil em 2010. 3 Os que se encontram na casa dos 40 anos.
Resumo Este artigo propõe a discussão de um caso, que teve início com a publicação de El aleph engordado, de Pablo Katchadjian, posteriormente levado a juízo por Maria Kodama, viúva de Jorge Luis Borges e detentora dos seus direitos autorais, e que ganhou repercussão com a criação da página no Facebook “Apoyo a Pablo Katchadjian” e com a vinculação do site #JoBorges ao movimento de defesa de Katchadjian. A maneira como a apropriação do texto de Borges por Katchadjian bem como a forma como a obra de ambos os escritores passam a circular em rede são discutidas a partir de pressupostos relacionados à circulação do literário no contexto digital, para refletir de que maneira podem ser compreendidos, na contemporaneidade, os conceitos de autoria, autor e obra.
The Atlas of Brazilian Digital Literature is the first and the only digital archive of digital literature in Brazil to date. It reunites the documentation (taxonomic description, images, videos, interviews with the authors, and critical fortune) of 150 works and counting. This article reports the challenges related to the construction and maintenance of the Atlas, which led to the formation of the Brazilian Digital Literature Observatory, a research group dedicated to follow and critically analyze the production of Brazilian digital literature, to propose alternatives for its preservation, and to discuss the changes in the literary system at a time when print culture and digital culture coexist.
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