“…Somado a isso, o câncer costuma estar vinculado à morte, que, por sua vez, ganha uma conotação de um processo difícil e permeado por sofrimento (Santos et al�, 2018)� Quando o sujeito adoecido é uma criança ou um jovem, as dificuldades em torno dessa experiência se acentuam, pois a doença grave indica a possibilidade de um fim prematuro da vida (Alves et al�, 2016;Karkow et al�, 2015;Mazer-Gonçalves et al�, 2016)� Ademais, no hospital, local onde ocorrem a maior parte das mortes por câncer (Öhlén, Cohen, & Håkanson, 2017), configuram-se questões institucionais que envolvem submissão às normas, que são estranhas à família -tais como horários de visita, de alimentação e higiene -, e às comunicações da equipe, as quais, por vezes, lhes parecem incompreensíveis (Menezes, Passareli, Drude, Santos, & Vale, 2007)� Quando a criança ou o jovem vem a morrer, inicia-se o processo de luto dos familiares cuidadores� Esse luto é considerado um processo de adaptação e representa uma resposta normal à perda de alguém significativo, envolvendo uma sucessão de quadros clínicos que se mesclam e se substituem e que possuem características próprias (Parkes, 1998)� Cabe destacar que, nesses casos, o processo de luto se desenvolve a nível familiar, numa tentativa de restabelecer o equilíbrio em sua dinâmica� Esse processo envolve a construção de um significado para a perda, que abrange a experiência subjetiva de cada membro e as experiências familiares conjuntas, considerando o contexto sociocultural em que se desenvolve (Shapiro, 2001)� Durante esse momento, pais e familiares enlutados necessitam de amparo e acolhimento para que possam dar algum significado a tal evento e buscar novos sentidos para suas vidas, ou seja: para que possam realizar adequadamente o seu trabalho de luto ao vivenciarem o período de pós-morte de seu ente querido (Gonçalves & Bittar, 2016)� Nesse contexto, ressalta-se a importância ao acesso a informações sobre o estado de saúde do familiar, as atitudes compassivas por parte das pessoas do sistema de atendimento (Freitas, Menezes, & Mussi, 2012), o suporte social e familiar e a concepção de que foi ofertado cuidado suficiente para que o ente adoecido não sofresse (Monteiro, Magalhaes, & Machado, 2017)� Ademais, destaca-se a importância do papel da equipe de saúde, pois é preciso que os profissionais sejam treinados não só para os procedimentos técnicos, mas para atendimentos que prezam pelo tempo, escuta e olhar ao outro (Andrade, Costa, Costa, Santos, & Brito, 2017)� Diante disso, a equipe pode funcionar como aliada e auxiliar a família, oferecendo amparo e ajudando-a a identificar recursos mais adequados para a vivência da perda (Salinas, 2011), o que influencia na elaboração do luto pós-morte (Lari, Shimo, Carmona, Moraes, & Campos, 2018). Por outro lado, o modo de cuidar, muitas vezes, ainda está reduzido à perspectiva biológica, por conta do contexto da formação dos profissionais de saúde, que ainda prioriza o viés curativo…”