Resumo: Este artigo, resultado de uma pesquisa qualitativa documental, discute práticas epistêmicas sobre linguagem de autoras e autores indígenas residentes no Brasil. Com base em autoras e autores indígenas e não indígenas -decolonialistas e pós-estruturalistas -confrontamos suas concepções de linguagem, considerando a construção das sociedades indígenas como o outro/objeto, que está presente na produção hegemônica de saber sobre linguagem. Consideramos o processo de silenciamento a que as etnias indígenas foram sujeitadas, e também o processo de resistência e apropriação de práticas e conceitos dos não indígenas, assim como coexistência de conceitos como língua, escrita e identidade. Como conclusão, apontamos a necessidade de ampliar o olhar epistemológico para dar conta de práticas discursivas coexistentes às do não indígena. Palavras-chave: Linguagem. Colonialidade. Epistemologia. Escrita indígena.
INTRODUÇÃOEsta pesquisa está inserida no contexto dos estudos sobre a invenção 1 das línguas, especialmente como foram articuladas e utilizadas * Este artigo é parte da pesquisa "Linguajamentos, corpos em crise e crítica do conhecimento: contra-hegemonias epistêmicas contemporâneas sobre linguagem", coordenada pela Profa. Dra. Joana Plaza Pinto. Aqui estão expressos alguns resultados parciais, investigados pela coordenadora do projeto principal e pela bolsista Elismennia Aparecida Oliveira, com financiamento de Bolsa do Programa de Iniciação Científica -CNPq/UFG. Agradecemos às(aos) pareceristas de Linguagem em (Dis)curso pelas contribuições para a melhoria do nosso texto e para explicitação de argumentos ** UFG, Bolsista PIBIC, Graduanda de Ciências Sociais. Email: mennalis@gmail.com *** UFG, Professora Adjunta, Doutora em Linguística. Email: joplazapinto@gmail.com 1 O termo "invenção" é usado aqui conforme o sentido dado por Makoni e Pennycook (2007), localizando este trabalho dentro da crítica aos regimes metadiscursivos (conjunto de discursos e dispositivos epistemológicos) da tradição colonial europeia, que organizou e inventou performativamente, com sua "atitude de descoberta", sua história e a dos povos que colonizou. Esta tradição mapeou o mundo com categorias que incluíam nomes de grupos, de línguas e de tudo que pudesse ser descrito. Esses regimes metadiscursivos integraram o projeto europeu de governabilidade e vigilância do mundo. Conforme apontam Makoni e Pennycook (2007, p. 8), a invenção é um processo dialético que implica 1) a criação de um passado construído no qual se insere o presente também construído; 2) a visão linear e progressiva de tempo e mudança; 3) a coconstrução performativa da história, das línguas e de seus conjuntos ideológicos; 4) a criação simultânea das línguas dos colonizados e também dos colonizadores.