a crítica ao conceito de raça vem se prestando historicamente, não para fundamentar a construção de uma sociedade efetivamente igualitária do ponto de vista racial, e sim para nublar a percepção social sobre as práticas racialmente discriminatórias presentes" (CARNEIRO, 2019(CARNEIRO, [2002, p. 144).Na mesma direção, sob o prisma da linguagem, Olender (2012) aponta como a construção de ideais nacionalistas europeias do século XIX forjaram esse imaginário de unidade, com base na discussão sobre a genealogia do suposto povo original, através das "línguas do paraíso". Assim, para Renan (1859), língua era "como um espelho da alma do povo que a fala" (OLENDER, 2012, p. 78). Nesse sentido, os povos considerados "exóticos", que não tinham o "privilégio" de pertencer à providencial linhagem indo-europeia, seriam desprovidos de civilidade, de "espírito", e, portanto, a ninguém deveria interessar a língua que falavam.Deste modo, raça e língua, na Linguística, pelo menos desde há um século e meio, são elementos complementares para o entendimento de um povo e sua cultura, embora, tradicionalmente, se argumente em prol de uma falaciosa neutralidade racial. Tal correlação, notadamente presente no modelo histórico-comparativista da Filologia e da Linguística, é marcada pela influência da produção eugenista, por meio do darwinismo social (SACRAMENTO, 2020). Segundo Olender (2012, p. 81),[a]pesar de sua polissemia, o termo 'raça' assegurou durante o século XIX, um enquadramento explicativo que assumiu um status de norma, oferecendo, aos olhos de uma grande quantidade de autores, um sistema hierárquico que permitia esclarecer um sentido possível de história passada e vindoura da humanidade.