ResumoA pesquisa em Lingüística Cognitiva no Brasil tem crescido de maneira considerável nos últimos anos. No entanto, ainda são poucos os estudos sobre a aquisição da linguagem que adotam o aporte teórico da Lingüística Cognitiva. Com o objetivo de preencher essa lacuna, o presente estudo investigou a produtividade de uma criança pequena no que tange o uso das diferentes flexões dos verbos regulares em português, em duas ocasiões diferentes: quando a criança tinha 1 ano e 10 meses de idade e quando ela tinha 2 anos e 2 meses de idade. Os dados foram retirados do banco de dados do projeto CHILDES. Apesar de ter havido um desenvolvimento significativo entre as duas ocasiões no uso das flexões verbais, os resultados sugerem que, em consonância com o paradigma da Lingüística Cognitiva, o conhecimento da morfossintaxe de verbos se desenvolve de forma gradual e é inicialmente pouco abstrato. As implicações desses resultados para uma teoria sobre a aquisição da linguagem são discutidas. Palavras-chave: Lingüística cognitiva; Morfologia de verbos; Aquisição da linguagem.
AbstractIn recent years, there has been an increasing body of research on Cognitive Linguistics in Brazil. However, few studies have investigated first language acquisition from a Cognitive Linguistics viewpoint. The present study is an attempt to fill in this gap. The productivity of a young Brazilian Portuguesespeaking boy with regard to the use of regular verbs was investigated at two different times: when he was 1 year and 10 months old, and when he was 2 years and 2 months old. The data were taken from the CHILDES database. Although there was a significant progress between Times 1 and 2, results suggest that the knowledge of the morphosyntax of verbs develops gradually, being initially non-schematic, which is consistent with the Cognitive Linguistics framework. The implications of these results for a theory of language acquisition are discussed. A investigação acerca da aquisição da morfologia verbal tem despertado o interesse de diversos pesquisadores e, por conseqüência, tem assumido um papel de destaque em disciplinas como a Psicologia Cognitiva, a Lingüística e a Psicolingüística. Uma questão recorrente diz respeito à natureza do conhecimento lingüístico subjacente ao uso produtivo das diferentes flexões verbais no início da aquisição da linguagem (Aguado-Orea, 2004;Rubino & Pine, 1998;Wittek & Tomasello, 2002. Em particular, vários pesquisadores têm procurado avaliar até que ponto o conhecimento inicial da criança em relação às marcações morfossintáticas de tempo e aspecto é baseado em regras morfossintáticas abstratas ou em itens lingüísticos específicos (Akthar & Tomasello, 1997;Olguin & Tomasello, 1993). Poucos estudos, no entanto, investigaram essa questão em línguas que apresentam um sistema morfossintático verbal complexo e denso, como é o caso da maioria das línguas românicas. O presente estudo propõe uma análise da fala espontânea de uma criança brasileira no que diz respeito à sua produção de verbos regulares, com vistas a fornecer e...