“…Nesse ponto, valeria observar possíveis consequências dessa releitura da poética valeryanacom suas modulações entre práticas e materiais heterogêneos -para o debate poético francês contemporâneo. Ora, o nome de Valéry costuma logo se associar à posição de poetas como Jean-Michel Maulpoix ou Michel Deguy -por sua defesa da poesia como uma experiência de hesitação se desvelando num espaço discursivo comum e vernacular que oscila entre poesia e prosa, altura e queda, sublimação e naufrágio (DEGUY, 2007, p. 15;SISCAR, 2016, p. 159-187) -e distanciar-se da posição de poetas como Pierre Alferi e Jean-Marie Gleize -que, evocando o Baudelaire de Spleen de Paris e Francis Ponge, propõem recusar toda sublimação, explorar a platitude neutral das prosas para remontar e reciclar as coisas, num plano de imanência cujo espaço é menos a língua vernacular do Cria ção Crí tica 2 5 que um campo radicalmente cotidiano de misturas de códigos, práticas e objetos verbais não identificados (GLEIZE, 2007;LEMOS, 2016). Contudo, tal associação entre a poética valeryana e a primeira posição não é isenta de atritos, como o próprio Deguy anotou -no prefácio que escreve à última edição dos Cahiers 1894-1914 de Valéry -ao declarar suas reservas em relação à aposta valeryana na convergência entre poema e matema, e dar preferência à precisão aferida não no plano dos N + S, mas no do juízo vernacular que compara e distingue (DEGUY, 2016).…”