Dando por perdida a suposta harmonia de sua relação com o espaço social, mostrando-se marginalizada culturalmente, lamentando a subordinação do mistério poético à tecnocracia e à acumulação, à predominância de uma outra visão de linguagem, articulando com isso um discurso da crise, a poesia dá forma a um certo modo de estar no mundo, expresso geração após geração, independentemente da verdade sociológica dessa crise. Não se trata de questionar a dramaticidade dos traumas e rupturas históricos que tiveram lugar desde Baudelaire, mas de compreender, a partir de poemas de Les Fleurs du Mal e de fragmentos de Mon coeur mis à nu, a constituição de um traço forte do discurso poético moderno.
Este ensaio propõe uma leitura de "Poesia e modernidade: Da morte da arte à constelação. O poema pós-utópico", de Haroldo de Campos, texto que busca selar o fim das vanguardas, ao mesmo tempo em que empreende sua legitimação crítica e histórica. O conflito entre a sobrevivência dos valores de vanguarda e a interpretação do contemporâneo como época de "pluralidade" (ou "diversidade") faz do texto de Haroldo de Campos um acontecimento histórico decisivo para a discussão contemporânea sobre poesia.
Com o você pensa a relação entre o tem po literá rio e o tem po histórico?
Em outubro de 2014, completaram-se 10 anos da morte de Jacques Derrida, um dos pensadores mais comprometidos com o exercício da filosofia, tanto em termos de pensamento quanto em termos institucionais, mas que, desde os anos 1960, vem deixando sua marca também em diversas outras áreas do conhecimento, em especial a dos estudos literários. Dificilmente se podem compreender as discussões que têm caracterizado os debates em torno da literatura e da cultura nesse período sem a referência direta, frequentemente polêmica, ao nome de Derrida ou ao termo "desconstrução". Trata-se, hoje, de um lugar de debate reconhecido mesmo por aqueles que pretendem descrever as insuficiências e os pontos de saturação de nossa relação com a teoria e com a própria literatura.O que a efeméride do passamento do autor deveria evocar, para além da homenagem pessoal ou do reconhecimento do significado histórico de seu trabalho, é a força com que sua obra continua se metamorfoseando, assumindo as mais diversas formas de exigência e de estímulo de pensamento. O presente número da revista Alea, ao olhar para tal paisagem com a rapidez característica de uma chamada de artigos, pretende também, nesse relance, recolocar em cena sua vibrante atualidade.Se perdemos a figura calorosa da pessoa -cuja inteligência e abertura de espírito, bem pouco comuns, tornaram-se amplamente conhecidas -é porque passamos mais explicitamente, independentemente da experiência e da nomeação do luto, a uma época de escrita. Na ausência do autor, em torno do qual a obra tendia a se reagrupar e se desdobrar, em seus variados momentos de atuação e intervenção públicas, passamos a um estado de repetição e de deslocamento: de edição, de tradução, de arquivamento e de inventário, é certo, mas também de invenção de um novo modo de viver com Derrida no qual o "póstumo" -que faz parte de toda estrutura de sentido -aparece mais dramaticamente como parte integrante da questão.Os artigos que associamos a esta iniciativa incidem sobre vários aspectos relacionados ao "legado" derridiano: os desafios da edição dos Seminários, o mapeamento da tradução e da leitura da obra de Derrida em outros espaços linguísticos (de língua inglesa e espanhola, por exemplo), a problematização da ideia da "morte" como conceito, a amizade como experiência da proximi-
O trabalho analisa a obra do poeta e teórico Michel Deguy, do ponto de vista de sua leitura dos problemas da técnica no contemporâneo. Ao retomar o percurso da questão na obra do autor, vemos que o tema da natureza se retrai paulatinamente, dando espaço a um questionamento sobre as diversas figuras do "progresso" técnico e levantando problemas geopolíticos, culturais e poéticos. Apesar de aparecem ao longo de quase toda sua obra, essas figuras estão singularmente apresentadas no livro O spleen de Paris (2001), título que expõe significativamente a raiz baudelariana do assunto. Nesse livro, as observações sobre o problema do tráfego urbano (carros, pedestres, ciclistas) ganham dimensão político-poética e sua retórica ajuda a entender o modo pelo qual o autor apresenta o sentido "humanista" da poesia.
O trânsito entre as línguas é constitutivo da produção literária de Beckett. Muito embora sejam questões conhecidas da crítica beckettiana, a tradução e a autotradução ganham outra perspectiva se consideradas a partir da discussão sobre os gêneros, no contexto da passagem da poesia para a prosa. Beckett não é prioritariamente ou programaticamente um poeta. Ele opta por distanciar-se da tradição do verso, mas mantém a prática episódica do poema durante toda a extensão de sua obra. A hipótese deste artigo é que a passagem de Beckett àquilo que entende como obra é uma passagem relacionada à poesia, entendida como prática de escrita que tem historicidade e sentido próprios. “Poesia” e “tradução”, em Beckett, são nomes do acesso ao sentido, movimentos expostos ao contratempo.
Para explicar por que escrevo ou por que se escreve usando "de 2.000 a 4.000 palavras", seria necessário mais do que clareza sobre desejos e estratégias, recalques e políticas. Veríamos se insinuar algo como o gosto pela exposição pública, este espetáculo de autor que, segundo as más línguas, acompanha hoje a experiência da literatura, mais do que a própria leitura -um "excesso" de sujeito no lugar em que o sujeito parece estar em "falta". A resposta ao "por que escreve?", no fundo, deveria envolver considerações que vão da psicanálise ao marxismo, da filosofia à teoria da literatura, expondo-se a elas, ao mesmo tempo; a não ser que se aceitasse com simplicidade o acréscimo de um suplemento de biografia, de anedotas e incidentes pessoais mais imediatamente narcísicos que teriam gerado a obra, tomada agora como objeto de memória ou de testemunho.
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