Este ensaio propõe uma leitura de "Poesia e modernidade: Da morte da arte à constelação. O poema pós-utópico", de Haroldo de Campos, texto que busca selar o fim das vanguardas, ao mesmo tempo em que empreende sua legitimação crítica e histórica. O conflito entre a sobrevivência dos valores de vanguarda e a interpretação do contemporâneo como época de "pluralidade" (ou "diversidade") faz do texto de Haroldo de Campos um acontecimento histórico decisivo para a discussão contemporânea sobre poesia.
Dando por perdida a suposta harmonia de sua relação com o espaço social, mostrando-se marginalizada culturalmente, lamentando a subordinação do mistério poético à tecnocracia e à acumulação, à predominância de uma outra visão de linguagem, articulando com isso um discurso da crise, a poesia dá forma a um certo modo de estar no mundo, expresso geração após geração, independentemente da verdade sociológica dessa crise. Não se trata de questionar a dramaticidade dos traumas e rupturas históricos que tiveram lugar desde Baudelaire, mas de compreender, a partir de poemas de Les Fleurs du Mal e de fragmentos de Mon coeur mis à nu, a constituição de um traço forte do discurso poético moderno.
O trânsito entre as línguas é constitutivo da produção literária de Beckett. Muito embora sejam questões conhecidas da crítica beckettiana, a tradução e a autotradução ganham outra perspectiva se consideradas a partir da discussão sobre os gêneros, no contexto da passagem da poesia para a prosa. Beckett não é prioritariamente ou programaticamente um poeta. Ele opta por distanciar-se da tradição do verso, mas mantém a prática episódica do poema durante toda a extensão de sua obra. A hipótese deste artigo é que a passagem de Beckett àquilo que entende como obra é uma passagem relacionada à poesia, entendida como prática de escrita que tem historicidade e sentido próprios. “Poesia” e “tradução”, em Beckett, são nomes do acesso ao sentido, movimentos expostos ao contratempo.
ResumoLeituras tradicionais de textos de Le Spleen de Paris, como as de Jean Starobinski e Walter Benjamin, dão destaque para a figura do bufão e para a atitude burlesca. Nessas análises, os poemas em prosa baudelairianos são vistos como testemunhos travestidos de uma experiência biográfica e histórica. O presente artigo procura apontar os inconvenientes da associação mecânica entre autor histórico e sujeito poético, colocando em primeiro plano elementos da obra de Baudelaire que levariam a considerar de outro modo a ideia do "declínio" do gênero poético.
Palavras-chave:Charles Baudelaire, Poema em prosa, Ironia, História.
AbstractTraditional readings of Le Spleen de Paris, as those made by Jean Starobinski and Walter Benjamin, highlight the figure of the buffoon and the burlesque attitude. In these analysis, Baudelaire's prose poems are considered as disguised testimonies of a biographical and historical experience. This paper aims to point out the inconvenience of an automatic association between the poet himself and the poetical subject, emphasizing aspects of Baudelaire's writing which would lead us to consider otherwise the idea of the "decline" of poetry.
O trabalho analisa a obra do poeta e teórico Michel Deguy, do ponto de vista de sua leitura dos problemas da técnica no contemporâneo. Ao retomar o percurso da questão na obra do autor, vemos que o tema da natureza se retrai paulatinamente, dando espaço a um questionamento sobre as diversas figuras do "progresso" técnico e levantando problemas geopolíticos, culturais e poéticos. Apesar de aparecem ao longo de quase toda sua obra, essas figuras estão singularmente apresentadas no livro O spleen de Paris (2001), título que expõe significativamente a raiz baudelariana do assunto. Nesse livro, as observações sobre o problema do tráfego urbano (carros, pedestres, ciclistas) ganham dimensão político-poética e sua retórica ajuda a entender o modo pelo qual o autor apresenta o sentido "humanista" da poesia.
Para explicar por que escrevo ou por que se escreve usando "de 2.000 a 4.000 palavras", seria necessário mais do que clareza sobre desejos e estratégias, recalques e políticas. Veríamos se insinuar algo como o gosto pela exposição pública, este espetáculo de autor que, segundo as más línguas, acompanha hoje a experiência da literatura, mais do que a própria leitura -um "excesso" de sujeito no lugar em que o sujeito parece estar em "falta". A resposta ao "por que escreve?", no fundo, deveria envolver considerações que vão da psicanálise ao marxismo, da filosofia à teoria da literatura, expondo-se a elas, ao mesmo tempo; a não ser que se aceitasse com simplicidade o acréscimo de um suplemento de biografia, de anedotas e incidentes pessoais mais imediatamente narcísicos que teriam gerado a obra, tomada agora como objeto de memória ou de testemunho.
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