"Largada sozinha, mas tudo bem": paradoxos da experiência de mulheres na hospitalização por abortamento provocado em Salvador, Bahia, Brasil

Abstract

O trabalho buscou compreender a experiência de mulheres internadas por abortamento provocado em três hospitais públicos de Salvador, Bahia, a partir do percurso e das interações que estabelecem com profissionais e outras usuárias. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com 19 mulheres sobre a experiência nos distintos momentos da internação e a avaliação da atenção recebida. Abortos e partos anteriores, próprios ou de conhecidas suas, conformam expectativas sobre a atenção recebida. A experiência das mulheres foi marcada por sentimentos negativos, pela dor física e emocional, mas, também, pelo alívio com o fim da gravidez e do risco de morte. Sofrimento adicional foi condicionado pela percepção de um "não-cuidado" e atitudes de discriminação pelo aborto, contrariando as atuais normas técnicas. Paradoxalmente, a maioria avaliou positivamente a atenção, embora com críticas. Esforços devem ser feitos para humanizar a assistência ao abortamento, considerando as experiências das mulheres.

Aborto inseguro no Brasil: revisão sistemática da produção científica, 2008-2018

“…Taking into consideration the illegality of abortion, one may assume that these delays occur either because women delay seeking services due to lack of social support 88 , fear of admitting an illegal practice 82 or due to the stigma associated with abortion 88,89 ; or because of the difficulty accessing health care services or a timely offer of care 88 . Studies conducted in the Northeast showed low quality of the care offered to women hospitalized due to complications from abortion, measured through an analysis of the service structure and of women's perception of the care they received 90,91,92 . The delay in seeking care and the occurrence of delayed complications from induced abortion increase the distance between the death and the abortion itself, which may contribute to its omission as an underlying cause in the death certificate, favoring its under-reporting as a cause of maternal death 55 .…”

Vulnerabilidade racial e barreiras individuais de mulheres em busca do primeiro atendimento pós-aborto

“…In Brazil, universal coverage by the Brazilian Unified National Health System (SUS) means that the financial factor is limited essentially to access to urban transportation, mainly by spatial segregation, where poor people live in the more peripheral urban areas that lack public services, including healthcare services. In relation specifically to maternity hospitals, there is a major disparity in geographic location, which aggravates social inequalities due to large healthcare voids 32 .…”

“…The real difference may actually be even greater, since part of the abortions reported as spontaneous may have been induced. Discrimination in health services has been reported recurrently in women experiencing abortion, and such discrimination can be both direct and indirect, with disrespectful treatment, moral judgment, and embarrassments and duress materializing in violent practices at the time of care for these women 32,33,34,35 . Discrimination appears to be redoubled by institutional racism and becomes a barrier to access even before entry into the health system.…”

Experiências de abortos provocados em clínicas privadas no Nordeste brasileiro

“…Esses estudos mostram a existência de atitudes discriminatórias que são expressas em julgamentos pelos profissionais de saúde, falta de informações sobre os procedimentos e punições pelo fato de as mulheres terem abortado 20,21 . Um inquérito com usuárias de 19 hospitais públicos de três capitais do Nordeste evidencia como a impessoalidade na atenção, a falta de informações e a ausência do planejamento reprodutivo pós-aborto desconsideram as necessidades concretas das mulheres e sua capacidade de tomar decisões nos campos da sexualidade e da reprodução 22 .…”