Estudos recentes em diferentes países têm apontado o aumento do consumo de esteróides anabolizantes entre jovens fisiculturistas e atletas, e os danos à saúde causados pelo seu uso indiscriminado. No Brasil, estudos sobre o uso de anabolizantes são escassos. No presente trabalho, examina-se a percepção de risco à saúde, associada ao consumo de anabolizantes, entre jovens fisiculturistas de um bairro pobre da cidade de Salvador. A metodologia privilegiou métodos de coleta de dados qualitativos tais como etnografia, entrevistas semi-estruturadas e grupo focal com usuários de anabolizantes. Os dados produzidos descrevem as principais substâncias utilizadas e os padrões de uso, e apontam a falta de informação dos jovens entrevistados sobre a extensão dos danos à saúde decorrentes do consumo de anabolizantes, mostrando que para muitos, o desejo de desenvolver massa muscular e alcançar o corpo ideal se sobrepõe ao risco de efeitos colaterais. Os resultados indicam a necessidade de se desenvolver ações culturalmente apropriadas, voltadas para a prevenção do abuso de anabolizantes junto à essa população.
O objetivo deste trabalho foi analisar práticas e significados atribuídos à saúde e à doença pela população em situação de rua em Salvador, Bahia, Brasil. Trata-se de um estudo qualitativo de enfoque antropológico com realização de observação participante e entrevistas semi-estruturadas com 13 indivíduos entre 30 e 66 anos. Os resultados apontam que as condições de vida e saúde deste grupo são muito precárias, sendo a violência sobressalente nas narrativas. Os principais problemas de saúde foram o abuso de substâncias psicoativas, HIV/AIDS, transtornos mentais, problemas odontológicos, dermatológicos e gastrointestinais. A saúde foi associada, entre outros significados, à capacidade de resistir ao cotidiano de dificuldades, enquanto a doença vinculou-se ao estado de debilidade impeditivo de lutar pela sobrevivência. Os serviços de saúde são procurados em situações graves e urgentes. Conclui-se pela necessidade de políticas específicas visando garantir condições de vida adequadas e acesso à saúde para esta população.
This study focuses on the meanings assigned to practices for cervical cancer prevention among women from low-income neighborhoods in Salvador, Bahia State, Brazil. This was a qualitative study based on content analysis of semi-structured interviews with 15 women 24 to 68 years of age. The results showed high appreciation of the Pap smear test, performed as part of routine gynecological examination (but without the patient necessarily having biomedical knowledge of its role). Besides accessibility and quality of health services, other factors influence the way the women assign meaning to cervical cancer prevention. Moral values associated with sexuality and gender influence risk perception, adoption of preventive practices, and interpretation of cervical cytology results. The ongoing practice of the Pap smear test is part of the construction of femininity, which is associated with maturity and personal responsibility for self care in a context of medicalization of the female body.
Resumo: Este artigo discute as necessidades e demandas de saúde de homens trans, tema pouco estudado que, com frequência, interpela a construção de práticas de cuidado em saúde para esta população. Foi realizada uma pesquisa qualitativa composta de observação participante e entrevistas semiestruturadas com dez homens trans residentes em Salvador, Bahia, Brasil, em sua maioria negros, heterossexuais e com idades entre 20 e 43 anos. A análise foi baseada na antropologia interpretativa, articulada às críticas do pressuposto da interseccionalidade e da perspectiva decolonial. As necessidades e demandas de saúde dos homens trans são organizadas em três aspectos: a despatologização, a modificação corporal e os atendimentos ambulatoriais. Esses não são universais entre todos os homens trans e podem ser decorrentes de situações que assinalam conflitos e pressões grupais. A ausência do processo transexualizador no estado e as barreiras no acesso à rede de atenção à saúde intensificam o processo de mercantilização das suas demandas de saúde, em especial, as modificações corporais. Conclui-se que a transfobia estrutural faz disparar uma série de questões de saúde, ao mesmo tempo em que limita as possibilidades de obtenção de cuidado. A despatologização das vivências trans constitui o eixo central com base no qual o cuidado deve ser pensado, relacionando-a a mudanças culturais, políticas e sociais que impliquem a construção de uma sociedade não transfóbica e incidam no bem-estar e reconhecimento dos homens trans.
Resumo As doenças genéticas raras constituem um importante problema de saúde pública, mas ainda são pouco estudadas na perspectiva da Saúde Coletiva. Este artigo tem por objetivo analisar os itinerários terapêuticos de pacientes com doenças genéticas raras nas cidades do Rio de Janeiro, Salvador e Porto Alegre, tendo por foco os desafios materiais, emocionais e estruturais enfrentados na busca por diagnóstico e tratamento. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com pacientes/cuidadores e profissionais de saúde em serviços públicos de genética médica. Observou-se que a experiência da doença genética rara, além de ser um desafio em si pelo caráter debilitante e incapacitante, é agravada por problemas de ordem prático-relacionais e burocrático-institucionais que não se resolvem com a chegada a um serviço especializado. A existência de longos itinerários terapêuticos até o diagnóstico, o desconhecimento dos médicos não geneticistas sobre as doenças raras, as dificuldades de transporte e de acesso a especialistas, a exames diagnósticos e complementares e o acesso a medicamentos e insumos alimentares de alto custo foram comuns às narrativas nas três cidades. A adesão aos cuidados oferecidos exigem estratégias de ação que dependem de arranjos envolvendo familiares, médicos, associações de pacientes e o Estado.
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