Aborto inseguro no Brasil: revisão sistemática da produção científica, 2008-2018

Abstract

O objetivo deste estudo é atualizar o conhecimento sobre o aborto inseguro no país. Foi realizada uma revisão sistemática com busca e seleção de estudos via MEDLINE e LILACS, sem restrição de idiomas, no período 2008 a 2018, com avaliação da qualidade dos artigos por meio dos instrumentos elaborados pelo Instituto Joanna Briggs. Foram avaliados 50 artigos. A prevalência de aborto induzido no Brasil foi estimada por método direto em 15% no ano de 2010 e 13% no ano de 2016. Prevalências mais elevadas foram observadas em populações socialmente mais vulneráveis. A razão de aborto induzido por 1.000 mulheres em idade fértil reduziu no período 1995-2013, sendo de 16 por 1.000 em 2013. Metade das mulheres referiu a utilização de medicamentos para a interrupção da gestação e o número de internações por complicações do aborto, principalmente complicações graves, reduziu no período 1992-2009. A morbimortalidade materna por aborto apresentou frequência reduzida, mas alcançou valores elevados em contextos específicos. Há um provável sub-registro de óbitos maternos por aborto. Transtornos mentais comuns na gestação e depressão pós-parto foram mais frequentes em mulheres que tentaram induzir um aborto sem sucesso. Os resultados encontrados indicam que o aborto é usado com frequência no Brasil, principalmente nas regiões menos desenvolvidas e por mulheres socialmente mais vulneráveis. O acesso a métodos mais seguros provavelmente contribuiu para a redução de internações por complicações e para a redução da morbimortalidade por aborto. Entretanto, metade das mulheres ainda recorre a outros métodos e o número de internações por complicações do aborto é ainda elevado.

Aborto e saúde no Brasil: desafios para a pesquisa sobre o tema em um contexto de ilegalidade

“…In a review of articles on unsafe abortion in Brazil 7 , among the quantitative studies published between 2008 and 2018, most were cross-sectional, with the limitation of ensuring the temporal sequence of events. Many used small samples and, despite good methodological quality, the generalizability of their findings was limited because they referred to very specific contexts.…”

“…Works with greater sample sizes had deficiencies in their statistical analysis and few studies reported statistical power, not including, for example, confidence intervals for their estimates of abortion prevalence. Many of the studies relied on participant accounts, obtained through interviews, to measure independent variables and induced abortion, with no validation from a different source of information 7 . Another important aspect is that many determinants were often measured using the moment of the interview as the reference, instead of the period when the abortion took place, further worsening the issue of temporality.…”

“…Many of the studies on determinants of abortion and its complications did not clearly present the conceptual models used when analyzing associations, or used inadequate models 7 . The choice of variables, in general, was not justified and, in some cases, was inappropriate.…”

“…Additionally, induced events occur more frequently among women with unintended pregnancies. This group should be the population base, both in cohort and case-control studies 7 .…”

“…In Brazil, studies have examined mortality from abortion, however, studies on morbidity due to this cause have only recently used the typology that includes severe maternal morbidity and near miss 7 .…”