Iron Cosmology, Slavery, and Social Control: The Materiality of Rebellion in the Coffee Plantations of the Paraíba Valley, Southeastern Brazil

Nos domínios das entidades das rochas

“…Em escavações realizadas na senzala da Fazenda Santa Clara, no trecho mineiro do Vale do Paraíba, foi encontrado um núcleo de quartzo em um dos recintos, enterrado em uma concavidade abaixo do piso (Figura 2). Em outras duas concavidades próximas, porém menores, foram encontrados mais dois fragmentos nucleiformes também de quartzo, todos interpretados como relacionados às crenças espirituais dos escravizados (Symanski & Gomes, 2016).…”

“…Na Pequena África foram recuperados seixos e blocos de quartzo, bem como de outras rochas, estrategicamente escondidos no subsolo ou depositados sob o assoalho de alguns dos trapiches que ali proliferaram no século XIX. Achados semelhantes vêm sendo feitos em sítios associados a africanos escravizados e afrodescendentes em diferentes pontos nos Estados Unidos; e, no Brasil -particularmente em Mato Grosso, por Symanski (2007), e em Minas Gerais, por Symanski & Gomes (2016) -, configurando uma prática com grande dispersão espacial, que sugere crenças compartilhadas, a partir de uma origem comum.…”

Delineando a Arqueologia Afro-Latino-Americana

“…Decerto que entender as edificações como sistemas de vigilância de escravizados é uma das tônicas da arqueologia da diáspora africana (Cf. síntese em Singleton, 2015a) e já foi trabalhada em outros contextos do Brasil (Souza, 2007;Symanski & Gomes, 2016).…”

“…O mesmo autor encontrou, numa senzala de uma fazenda de café do Vale do Paraíba, Rio de Janeiro, fragmentos de ferro acolchetados à argila branca, lascas e núcleos de quartzo. Tal contexto relacionarse-ia às cosmologias do ferro da África Central e aos poderes atribuídos aos ferreiros; ademais, estimularam rebeliões que se disseminaram no Vale do Paraíba na segunda metade do século XIX (Symanski & Gomes, 2016). Camilla Agostini (2013), por sua vez, discutiu a presença de duas chaves e uma pedra polida enterradas sob o piso da casa de um comerciante e traficante ilegal de escravos do litoral Norte de São Paulo.…”

“…Se ferros eram oferendas adequadas a Ogum, serviam também à fabricação de artefatos de aprisionamento e castigo. O ferro é ainda, nas cosmologias centro-africanas, substância da riqueza, da perícia, do trabalho e da disciplina; liberar-se a partir do ferro é virar o mundo do avesso (Symanski & Gomes, 2016). Daí a metamorfose de Ogum como guerreiro nos contextos afro-latino-americanos.…”