INTRODUÇÃOO Brasil, com a grandeza de seu litoral, de sua flora e, sendo o detentor da maior floresta equatorial e tropical úmida do planeta, não pode abdicar de sua vocação para os produtos naturais. A Quí-mica de Produtos Naturais (QPN) é, dentro da Química brasileira, a área mais antiga e a que, talvez ainda hoje, congregue o maior núme-ro de pesquisadores.Para facilitar a compreensão do texto e melhor situá-lo no contexto da QPN brasileira, julgou-se apropriado descrever alguns marcos históricos na evolução dessa área, sem a pretensão de hierarquizar estes marcos, mesmo porque a simples escolha e definição de limites depende do autor da escolha e por isso é sempre um ato pessoal e muitas vezes até arbitrário.Os primeiros médicos portugueses que vieram para o Brasil, diante da escassez, na colônia, de remédios empregados na Europa, muito cedo foram obrigados a perceber a importância dos remédios indígenas. Os viajantes sempre se abasteciam destes remédios antes de excursionarem por regiões pouco conhecidas. Os primeiros cronistas da história brasileira, para citar apenas dois, foram: Pero de Magalhães Gândavo que escreveu "História da Província de Santa Cruz (a que vulgarmente chamamos Brasil)" em 1576, e Gabriel Soares de Souza, o autor de "Tratado Descritivo do Brasil", de 1587. Este último denominava os produtos medicinais utilizados pelos ín-dios de "as árvores e ervas da virtude" 1 . Além dos remédios naturais usados na terapêutica médica, não se pode deixar de mencionar o corante extraído da árvore do paubrasil, o principal produto de exportação da colônia durante mais de dois séculos, e um dos motivos para a colonização do Brasil pelos portugueses 2 . Quando Portugal começou a perder suas fontes de especiarias, na Índia e na Ásia, que foram passando para as mãos de ingleses e holandeses, iniciou-se no Brasil a corrida às especiarias do sertão -canela, baunilha, cravo, anil, raízes aromáticas, urucum, puxurí, salsa, sementes oleaginosas, madeiras etc... Em 1793, só de anil, foram exportadas 1400 arrobas para Portugal 3 .A vinda da Corte Real para o Brasil, em 1808, e o decreto de D. João VI que abriu os portos brasileiros às nações amigas pode ser considerado como um dos primeiros marcos históricos oficiais na ciência brasileira, porque foi a partir deste decreto que começaram a chegar ao País as primeiras expedições científicas, cujo principal objetivo era dar conhecimento aos europeus da exuberância de nossa fauna e de nossa flora. A maioria dos naturalistas destas expedições vieram com a incumbência de coletar espécimes de animais e de plantas para os museus europeus. Não se pode, entretanto, deixar de mencionar que a Europa já tinha conhecimento, há muito tempo, de plantas medicinais brasileiras, através da obra "Historia Naturalis Brasiliae". Três homens foram responsáveis pelo conteúdo do livro: Georg Marcgrave, originário da Alemanha, mas tendo estudado em Leiden; Johannes de Laet, que editou a contribuição de Marcgrave e acrescentou comentários próprios, e o médico de Maurício de Nassau, Willem ...