Identidade e pertencimento: Grupos de apoio à adoção e direito às origens

Abstract

Resumo Tendo como ponto de partida o debate sobre o conhecimento das origens de parentesco como direito humano, este artigo discute a correlação entre identidade e pertencimento familiar a partir de pesquisa etnográfica em grupos de apoio à adoção, conversas e entrevistas com seus membros e coordenadores. A partir da narrativa de uma filha adotada, que conhecemos nas reuniões do grupo, aprofundamos ainda a discussão sobre o modo como numa trajetória pessoal singular se entrelaçam questões identitárias e relacionais tanto quanto concepções mais amplas sobre família, parentesco, raça, gênero, classe e pertencimento. Concordando com Strathern (1999) que a revelação de uma nova informação de parentesco pode ser envolvida por cautelas e tensões, uma vez que traz impactos embutidos para a identidade pessoal e para os relacionamentos, refletimos sobre alguns dos embates entre a prática de adoção e o direito às origens.

Governança reprodutiva: um assunto de suma relevância política

“…Longe de terem recursos para buscar um filho adotivo no exterior, pretendentes à paternidade adotiva acabam se enredando nessas redes locais. E é nessa conjuntura de discursos sobre direitos da criança, misturados a moralidades filantrópicas e humanitárias, que a maioria de pesquisadores da adoção tem concentrado suas energias (Finamori, Silva, 2019;Rinaldi, 2019;Uziel, 2007).…”

Experiências maternais de Geni: a trajetória de uma mulher transexual e sua relação com a Justiça da Infância e Juventude

“…A "adoção à brasileira" consiste no registro do nome da criança como se ela fosse seu filho biológico, com a ciência de que não é(Finamori;Silva, 2019).…”

Pessoas memoriais: práticas de parentesco e política na Argentina

“…Posto que uma das ferramentas usadas por militares para aniquilar os grupos de oposição foi a manipulação do parentesco e as origens por meio da apropiación, do segredo, do ocultamento e da mentira, como mostra a bibliografia sobre o assunto, as histórias de nietos e nietas acabam se aproximando das histórias de pessoas adotadas em que a descoberta das origens biológicas desarticula o segredo e desestabiliza o sentimento de pertencimento familiar (Gesteira, 2016;Finamori;Da Silva, 2019). Para Catalina, a manutenção da relação familiar com María Francisca e Hidalgo demandava o esforço de manter o segredo da apropiación e a história forjada pelos apropiadores, o que lhe custava renunciar aos seus próprios modos de agir no mundo.…”