Após breve reflexão sobre os sentidos do olhar para a construção do conhecimento, teço considerações sobre o uso da máquina fotográfica na pesquisa em psicologia social do trabalho. Parto da ideia de que a construção de conhecimento é um processo de construção de visibilidades expressas tanto pela própria fotografia, como por palavras. A máquina fotográfica funcionou como mediação entre pesquisadora e pesquisados, na qual a promessa de fixação da imagem abriu espaços que potencializaram meu conhecimento dos valores sociais que sustentam a feira livre, das feições dos processos que a organizam, notadamente a sua organização em rede, e da estreita relação entre trabalho, arte e sociabilidade.Palavras-chave: Psicologia social do trabalho, Metodologia, Etnografia, Máquina fotográfica, Fotografia, Feira livre.To look, to be looked at, and to look at oneself: notes on the photographic camera use in research in social psychology of work After briefly considering the roles of looking in knowledge building, I examine the photographic camera use in research in social psychology of work. I start from the idea that knowledge building is a process of building visibilities expressed both in photography and in words. The camera acted as a mediator between the researcher and her subjects, and its promise of fixation opened paths to enhance my knowledge of the social values underlying the open-air market, the features of its organization processes, especially its network structure, and the close relationship of work, art and sociability.Keywords: Social psychology of work, Methodology, Ethnography, Photographic camera, Photography, Open-air markets.ste artigo tem por objetivo apresentar apontamentos sobre a pesquisa em psicologia social do trabalho baseando-se em pesquisa de cunho etnográfico que conduzi com vistas a descrever os processos organizativos e o trabalho na feira livre na cidade de São Paulo.
ETematizo a pesquisa como processo de construção de visibilidades. Considerando-se os diferentes sentidos histórico-sociais do "olhar", discuto a relação entre pesquisador e pesquisados a partir da evocação de vivências de "cuidado", de "interesse" e de "vigilância". Tais vivências, por parte dos pesquisados, são expressas por atos que permitem "ser olhados", que anunciam "olharem-se" e que eles "olham". Esse processo de construção de visibilidades mostra-se mais evidente e é potencializado quando a convivência do pesquisador com os pesquisados é intermediada pela máquina fotográfica, como instrumento que indica a promessa de registro de imagens. Esse intermediário potencializou meu acesso, como pesquisadora, aos valores sociais associados ao trabalho na feira livre, a algumas das principais feições dos processos que organizam a feira livre -tais como a organização em rede, a estreita vinculação entre relações de trabalho, de amizade e familiares, a estreita vinculação entre as dimensões lúdica, estética e de trabalho -, que foram apresentadas em outros estudos (Sato, 2006(Sato, , 2007.