RESUMO: Este texto trata da fotografia como ferramenta de pesquisa em psicologia social, discutindo suas potencialidades na análise dos processos de produção de subjetividade. Para isto, parte-se de uma breve análise dos modos de utilização da fotografia na pesquisa social, tomando como referência a perspectiva metodológica da "intervenção fotográfica" e da "fotocomposição". Esta análise está baseada em dois estudos sobre subjetividade e trabalho, realizados com trabalhadores ligados a programas de geração de renda e de trabalho e com trabalhadores que exercem sua atividade na rua e nas praças da cidade de Porto Alegre, onde a produção de fotografias foi o eixo central das estratégias metodológicas. PALAVRAS-CHAVE: Trabalho; subjetividade; intervenção fotográfica; fotocomposição; fotografia. IMAGES AS A METHODOLOGICAL RESEARCH STRATEGY: PHOTOCOMPOSITION AND OTHER POSSIBLE APPROACHESABSTRACT: This article deals with photography as a research tool in social psychology, discussing its potential in the analysis of the processes underlying the production of subjectivity. For this means, we briefly review some forms of using photography in social research, taking the methodological perspectives of "photographic intervention" and "photocomposition" as references. This analysis is based on two studies on subjectivity and labor, undertaken with individuals working in income and employment generation programs and in the streets and squares of the city of Porto Alegre, respectively, in which the production of photographies was the central methodological strategy. KEYWORDS: Labor; subjectivity; photographic intervention and photocomposition; photography.Ao longo da última década, observamos um aprofundamento da discussão sobre a imagem na pesquisa em ciências humanas em geral, assim como uma maior freqüência de utilização da tecnologia audiovisual como recurso metodológico. A prática de entregar uma câmera de vídeo ou fotográfica a sujeitos que experienciam uma situação a ser estudada tem se tornado freqüente e atingido diferentes áreas de especialização. Além da Antropologia Visual, que sempre trabalhou com tecnologias de produção fotográfica e de vídeo -podemos citar a Comunicação Social, a Psicologia, a Educação e a Sociologia como áreas que vêm investindo na questão da imagem como recurso metodológico (Kirst, 2000;Maurente, 2005; Neiva-Silva, 2003;Tittoni, 2004). Em nosso grupo de pesquisa Trabalho, Ética e Estética, no Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Institucional da Universidade Federal do Rio Grande do Sul temos buscado um aprofundamento nesta questão. O entendimento do modo como temos pensado em uma estratégia metodológica baseada na utilização da fotografia remete a algumas discussões que rondam o terreno do imaginário e que tentam problematizar o amplo espectro de possibilidades que abre uma imagem fotográfica.De acordo com Eckert e Rocha (2000), as invenções tecnológicas de produção e reprodução da imagem seriam herdeiras do ideário da modernidade, que dirige um olhar humano sobre o mundo cuja f...
Este artigo aborda uma experiência de utilização de tecnologias digitais na área da saúde mental, tendo como foco analisar a construção compartilhada de um blog por jovens usuários de um serviço. A conversa instituída a partir das postagens, do endereçamento a um coletivo e do acesso uma gama de imagens são indicadores de facilitação a uma posição de autoria.
A cultura da avaliação caracteriza-se como importante dispositivo de controle contemporâneo. Na educação superior, a lógica produtivista é apenas mais uma expressão da ubiquidade das práticas neoliberais, que engendram modos de subjetivação e capturas em espaços que deveriam resguardar possibilidades de resistência. A partir da noção foucaultiana de ética, este artigo aborda experiências de estudantes de pós-graduação em relação ao que chamamos de moral produtivista neoliberal no contexto acadêmico. Apresentam-se fragmentos de uma pesquisa-intervenção, que incluiu entrevistas semiestruturadas e oficinas de fotografia com dez estudantes de cinco programas de pós-graduação de universidades brasileiras. Os resultados apontam para a sujeição a uma moral produtivista no contexto acadêmico e para formas de questionamento e resistência que se articulam nas relações dos sujeitos consigo mesmos, deixando entrever também o sofrimento dos pós-graduandos que, com altos níveis de produtividade, são considerados cases de sucesso.
Este artigo apresenta uma discussão sobre a fotografia enquanto estratégia de pesquisa-intervenção a partir de três considerações. A primeira analisa os contrapontos entre políticas inventivas e recognitivas e, a partir disto, faz uma análise da potencialidade da pesquisa-intervenção enquanto forma de tensionar modelos científicos baseados mais em resultados do que em processos. A segunda analisa a hibridicidade epistemológica da fotografia – que sustenta uma condição icônica, indiciária e simbólica a um só tempo – podendo ser capaz de embaralhar formas instituídas de ver e agir, instaurando um “resultado problema”, o que pode ser interessante para o campo da pesquisa-intervenção. A terceira aborda os processos de individuação da fotografia à luz do pensamento simondoniano, discutindo sua metaestabilidade e potencialidade de desdobramentos em campo após se individuar como uma imagem fisicamente produzida. A discussão se articula a partir de alguns relatos de um projeto de pesquisa-intervenção em um hospital psiquiátrico, no qual usuários e equipe foram convidados a fotografar e produzir uma exposição com as imagens.
Neste artigo relacionamos a produção fotográfica com os processos de individuação teorizados por Gilbert Simondon. A fotografia é considerada como um processo com diversas fases ou individuações, sejam elas físicas, psíquicas ou coletivas. A partir de uma individuação irreversível produzida pelo artefato da máquina fotográfica, outras individuações são possíveis e moduladas pelo discurso e por singularidades de cada sujeito. Os discursos relacionados à fotografia são entendidos como individuações coletivas suscetíveis ao regime de verdade de determinada época e sociedade. Propomos assim abordar o processo fotográfico levando em consideração diversos níveis de individuação e o uso de conceitos não estáticos, como a informação segundo Simondon.
Este artigo apresenta uma estratégia metodológica baseada na produção de imagens fotográficas para estudar a forma como sujeitos experienciam a si mesmos em um determinado contexto político/institucional. Partimos da noção foucaultiana de que os sujeitos podem-se reconhecer de diferentes modos em jogos de verdade que dizem respeito à sua condição de vida. O interesse em estudar esta relação vem nos lançando em direção a diferentes metodologias, baseadas na construção de um campo de estudos em contextos específicos, no presente caso, o da saúde mental. No projeto Oficinando em Rede, do qual fazemos parte atualmente, tal construção se materializa em oficinas tecnológicas que buscam, entre outras coisas, propiciar contextos favoráveis à experiência de autoria de crianças e adolescentes em tratamento em um centro de saúde mental em Porto Alegre. Uma destas oficinas é a de fotografia, onde os jovens são convidados a produzirem imagens a partir de uma pergunta. A pergunta que temos feito é sobre a forma como eles vêem o local. Consideramos que, através de propostas como esta, ancoradas por recursos tecnológicos e produção de espaços de autoria, poderemos refletir sobre a experiência que estes sujeitos fazem de si mesmos na especificidade desse contexto. Neste artigo buscamos situar como chegamos a esta proposição no que tange a sua parte teórica, ou seja, como aproximamos as noções de experiência de si (FOUCAULT, 2001) e autoria e como a fotografia se constitui como estratégia peculiar nesse encontro.
Discutimos a ideia de produção de si através de conteúdos presentes em perfis do Grindr-aplicativo móvel e geolocalizado de busca de parceiros entre homens, comumente utilizado no contexto brasileiro. O Grindr foi a primeira ferramenta a conjugar a busca por sexo via internet ao mecanismo de geolocalização, acarretando mudanças significativas na vivência da sexualidade e do espaço público para homens que fazem sexo com homens. Realizamos uma cartografia no aplicativo, tendo como foco inicial as descrições de perfis encontrados em diferentes regiões da cidade de Porto Alegre, Brasil. Percebemos a recorrência de ideais de masculinidade, desvalorização de atributos entendidos como femininos, referências à lógica do aplicativo e negociação do sigilo na formulação dos perfis. Discutimos o Grindr como espaço de reorganizações discursivas, que se inserem no interior do aplicativo através dos modos como sujeitos produzem sentidos sobre "quem são" e "o que buscam" na ferramenta.
Este artigo apresenta uma experiência de trabalho com oficinas de fotografia dirigidas à equipe de enfermagem de uma unidade infantil e adolescente de um hospital psiquiátrico público em Porto Alegre. Esta proposta estava vinculada a um projeto maior, no qual todos os trabalhadores e jovens pacientes do hospital foram convidados a participar de oficinas de fotografia. O objetivo da proposta foi criar novas vias de exercícios de autoria a partir da tecnologia fotográfica e permitir a re-invenção de sentidos no coletivo. Para tanto, as oficinas foram divididas em quatro etapas: sensibilização para a condição simbólica/autoral da imagem; proposição de que os sujeitos fotografassem livremente; proposição de que os sujeitos fotografassem a partir da questão como você percebe este lugar? e relatos pós-fotográficos. As análises sobre estas quatro etapas indicaram que a fotografia é um objeto híbrido, capaz de ser tomado de diferentes formas, de acordo com o contexto no qual é produzida. A partir disto, foram possíveis discussões sobre as formas de visibilidade e resistência ao instituído que fazem parte do cotidiano de trabalho da enfermagem no hospital psiquiátrico.
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