Feitiços e contrafeitiços no ritual de licenciamento de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) no sul do Brasil: cosmopolítica Mbya e Kaingang no enfrentamento à razão unificadora jurua
Abstract:Artigo recebido em 21 de fevereiro de 2017, versão final aceita em 13 de outubro de 2017.
RESUMO:O artigo analisa o conflito entre grupos das etnias Kaingang e Guarani e aqueles que representam a tentativa de se construir quatro pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) no rio Jacuizinho/RS. O foco da análise recai especificamente sobre uma das etapas do licenciamento ambiental das obras: a elaboração do "Componente Indígena" (CI) que, em tese, deveria ser elaborado com os Estudos de Impacto Ambiental. No caso do… Show more
“…Segundo este autor, YvyGuata (Yvy = terra; Guata = caminhar), é uma forma de viver em livre circulação: como uma água que não para de fluir (Printes, 2015). 19 Palavras muito semelhantes foram proferidas pelo líder Mbya Guarani Candino Oliveira e registradas na cartilha "Yakãchyry" (rio que corre), elaborada pelos Guarani para receber visitantes na tekoa Porã no Salto do Jacuí (Soares, 2012;Gerhardt & Rocha, 2017). (Krenak, 2018).…”
O aumento na escala e na intensidade da exploração dos territórios e dos bens hídricos se entrelaçam como base para a acumulação de capital. Após aprovada a nova lei de saneamento básico no Brasil (Lei N° 14.026/2020) – que deixa nas mãos da iniciativa privada a gestão hídrica e fragiliza ainda mais os direitos indígenas – a água passou a ser, também, cotizada na bolsa de valores de Wall-Street, propiciando a sua especulação, concentração e capitalização. É neste cenário que – no Brasil e na América do Sul – a abundância, a qualidade e os direitos a este bem comum, se tornam cada vez mais disputados pelo paradigma desenvolvimentista. Estes cenários contribuem para o desmonte das políticas hídricas e socioambientais, repercutindo violentamente nos povos indígenas e seus territórios. Mas o que significa a escassez hídrica e a perda de acesso e de direitos às águas para os povos indígenas? Há espaço nas ciências modernas ocidentais para as valiosas contribuições que as perspectivas ameríndias têm promovido no campo do conhecimento? Repensar as relações entre desenvolvimento, política, ecologia e natureza é urgente. Nosso objetivo é analisar o atual desmonte das políticas hídricas brasileiras no contexto sul-americano, buscando compreender a influência da privatização das águas sobre as vidas indígenas, principalmente Mbya-Guarani. Discute-se, também, como a contribuição das cosmovisões ameríndias podem auxiliar para a construção de um novo paradigma no que diz respeito à conservação da natureza, em especial dos bens hídricos. Metodologicamente, este artigo promove, a partir da observação participante e da pesquisa-ação, a construção de relações dialógicas entre pesquisadores(as) e um dos líderes político-espiritual Mbya-Guarani. Reconhecendo que os povos originários são essenciais para a conservação da natureza, entende-se que assegurar seus direitos territoriais e garantir a reprodução dos seus modos de vida permitirá a manutenção dos ciclos vitais do planeta (como o ciclo das águas).
“…Segundo este autor, YvyGuata (Yvy = terra; Guata = caminhar), é uma forma de viver em livre circulação: como uma água que não para de fluir (Printes, 2015). 19 Palavras muito semelhantes foram proferidas pelo líder Mbya Guarani Candino Oliveira e registradas na cartilha "Yakãchyry" (rio que corre), elaborada pelos Guarani para receber visitantes na tekoa Porã no Salto do Jacuí (Soares, 2012;Gerhardt & Rocha, 2017). (Krenak, 2018).…”
O aumento na escala e na intensidade da exploração dos territórios e dos bens hídricos se entrelaçam como base para a acumulação de capital. Após aprovada a nova lei de saneamento básico no Brasil (Lei N° 14.026/2020) – que deixa nas mãos da iniciativa privada a gestão hídrica e fragiliza ainda mais os direitos indígenas – a água passou a ser, também, cotizada na bolsa de valores de Wall-Street, propiciando a sua especulação, concentração e capitalização. É neste cenário que – no Brasil e na América do Sul – a abundância, a qualidade e os direitos a este bem comum, se tornam cada vez mais disputados pelo paradigma desenvolvimentista. Estes cenários contribuem para o desmonte das políticas hídricas e socioambientais, repercutindo violentamente nos povos indígenas e seus territórios. Mas o que significa a escassez hídrica e a perda de acesso e de direitos às águas para os povos indígenas? Há espaço nas ciências modernas ocidentais para as valiosas contribuições que as perspectivas ameríndias têm promovido no campo do conhecimento? Repensar as relações entre desenvolvimento, política, ecologia e natureza é urgente. Nosso objetivo é analisar o atual desmonte das políticas hídricas brasileiras no contexto sul-americano, buscando compreender a influência da privatização das águas sobre as vidas indígenas, principalmente Mbya-Guarani. Discute-se, também, como a contribuição das cosmovisões ameríndias podem auxiliar para a construção de um novo paradigma no que diz respeito à conservação da natureza, em especial dos bens hídricos. Metodologicamente, este artigo promove, a partir da observação participante e da pesquisa-ação, a construção de relações dialógicas entre pesquisadores(as) e um dos líderes político-espiritual Mbya-Guarani. Reconhecendo que os povos originários são essenciais para a conservação da natureza, entende-se que assegurar seus direitos territoriais e garantir a reprodução dos seus modos de vida permitirá a manutenção dos ciclos vitais do planeta (como o ciclo das águas).
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.