RESUMO O objetivo deste trabalho é, a partir dos preceitos da decolonialidade (QUIJANO, 2005; WALSH, 2009), analisar as listas de leituras obrigatórias de vestibulares, investigando: os efeitos retroativos dessas listas nas práticas de letramentos literários escolares; a diversidade social, étnica, sexual e de gênero que elas promovem; como movimentam o cânone literário escolar; e como contribuem (ou podem contribuir) para uma maior democratização da/na educação literária. Para isso, selecionamos listas dos últimos vestibulares de sete universidades públicas, buscando contemplar instituições de cada região do Brasil. Tomamos as listas de leituras como importante ferramenta de legitimação de autores e obras literárias para o contexto escolar. A análise proposta é qualitativo-interpretativista (MOITA-LOPES, 1994; 2006) e compreende que todas as práticas de letramentos literários são ideológicas (STREET, 2014), o que pressupõe tanto uma investigação em diálogo com os contextos sociais e com os diversos atores/agentes em torno das práticas de letramentos analisadas, quanto uma interpretação que não isole os dados da pesquisa das relações de poder e disputas discursivas exercidas em torno deles. A partir da constatação de que a inclusão promovida por essas listas de obras literárias se limita apenas a determinadas diversidades, procuramos analisar, especialmente, a ausência de autores e obras LGBTQIA+, a fim de compreender as razões dessa ausência e demonstrar o potencial educativo que obras e autores desses grupos sociais poderiam ter na construção de práticas de letramentos literários escolares de reexistência (SOUZA, 2011; WALSH, 2009) para uma educação transgressora (HOOKS, 2017) e democrática.