Excesso de atividades, consumo e superproteção: possíveis fatores de tédio em crianças

Abstract

Neste trabalho, procurou-se entender as relações entre padrões de consumo e a vivência do tédio em crianças. O tédio está relacionado com a falta de motivação, a apatia e a falta de sentidos na própria vida. Nem as crianças estão escapando disso. Elas estão menos interessadas por atividades típicas da infância, como brincar. Para entender os motivos que estariam levando as crianças ao tédio, verificou-se como é estabelecida a rotina extraescolar de crianças oriundas de famílias de alto poder aquisitivo. As agendas dessas crianças estão ocupadas por diversas atividades que visam a um futuro promissor, os equipamentos eletrônicos estão mais acessíveis e os adultos são cada vez mais controladores esuperprotetores. Nesse cenário, o tédio se impõe.

“O Tempo Ruim Vai Passar”: O Risco De Morte E a Proteção De Jovens Moradores De Periferia Envolvidos Em Contextos De Violência

“…práticas esportivas e reforços escolares, balé, dança, música e outros, no intento de fazê-las adquirir responsabilidades e se prepararem para o futuro profissional Silva & Santos, 2009). Mas, o excesso de atividades na infância, implica o aparecimento de doenças e transtornos típicos de um organismo estressado e sobrecarregado, tais como enxaquecas, dores estomacais, distúrbios do sono (insônia, terror noturno), alimentares (obesidade, anorexia, bulimia) e transtornos psicológicos (ansiedade e depressão) (Kunsch, 2014).…”

Ideologia gerencialista, gerenciamento familiar e a proliferação do ensino de programação para crianças e adolescentes

“…Escolas com distintas ofertas -idioma, música, dança, esporte, pintura, teatro, artesanato, culinária, yoga, programação -especificamente dirigidas para crianças, vêm se proliferando no país nos últimos anos. Decorre disso o entendimento de que um suposto tempo livre fora da escola venha sendo colonizado por tarefas que visem proporcionar um futuro promissor por meio de desempenho profissional de sucesso (KUNSCH, 2014). Um desempenho que se associa à noção de trabalho imaterial, uma vez que este demanda e depende dos saberes adquiridos e acumulados ao longo da vida (GORZ, 2005;LAZ-ZARATO;NEGRI, 2001).…”

“…No campo da educação e da psicologia, estudos como os de Kunsch (2014), Assemany (2016) e Santana (2017) verificaram, respectivamente que: a) pais e mães tendem a preencher o tempo das crianças com atividades extracurriculares a fim de estimularem o desenvolvimento de suas habilidades vislumbrando um futuro promissor; b) há uma superestimulação na infância em razão das expectativas das famílias, calcadas em suas próprias fantasias e desejos de que os/as filhos/as venham a ter um futuro de sucesso; c) as pressões e a quantidade de atividades incluídas na rotina das crianças trazem consequências para o seu desenvolvimento.…”