Este artigo esboça um breve panorama sobre uma parcela dos trabalhos indígenas produzidos pelos Kaiowá e Guarani no Mato Grosso do Sul ou em regimes de colaboração com pesquisadores não indígenas procurando identificar em que medida eles nos trazem a percepção de uma antropologia indígena. A ideia da colaboração, iluminada pela de “pacto etnográfico” protagonizado de modo exemplar por Davi Kopenawa e Bruce Albert (2015), nos faz refletir sobre o que caracteriza a colaboração e como ela pode ser percebida nos diálogos e traduções estabelecidos em torno dos escritos indígenas. Discutimos, ainda, como recurso de contraponto, pesquisas realizadas por indígenas de outras etnias, sem a pretensão de dar conta de toda antropologia indígena no Brasil, mas buscando articulações com a produção de algumas pesquisas realizadas por kaiowá e guarani. Trata-se antes, de uma provocação às múltiplas possibilidades de percepções sobre a vida e as relações implicadas com multiversos, nos quais o pensamento indígena se exercita nos escritos indígenas a partir de articulações com o pensamento antropológico. Isto nos leva à questão central do presente texto: o que de antropologia indígena tem no que os índios escrevem? Na parte final do artigo inserimos uma reflexão sobre o viés de gênero, discutindo algumas pesquisas realizadas por mulheres kaiowá e guarani, e nos esforçamos para identificar diferenças nos temas e enfoques por elas adotados.